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segunda-feira, 4 de abril de 2011

ESQUECERAM DAS RAÍZES DO NOSSO CORAÇÃO!


Suely (Filha de Antônio André) e Bernadete Piancó (São Vicente, 1947)

Bernadete (beta) é a minha irmã mais velha, ela nasceu em 1947, no antigo povoado de São Vicente, pertencente a então Vila das Umburanas, hoje minha cidade natal, Itapetim, no estado de Pernambuco.
Walfredo Paulino de Siqueira e Dona Maria eram seus padrinhos de Batismo, e Suely, a filha de Seu Antônio André, foi sua madrinha de apresentação.
Bernadete nasceu na época em que o ouro branco (algodão) era culltivado em larga escala no meu município. Meu pais, Antônio e Rita, casaram e foram morar  naquele povoado, onde meu pai trabalhou nos armazéns de compra de algodão, mamona, agave e outras culturas, pertencente a Walfredo Paulino de Siqueira, um comerciante de São José do Egito, do qual veio, posteriormente, a ser sócio durante 40 anos.
Eu sou a segunda filha desse casal, já nascida em Itapetim, pois meus pais vieram morar nessa cidade, no ano de 1948.

A primeira "semente" que brotou daquele casal, a qual eles deram o nome de Bernadete, nasceu  no solo de São Vicente, dando início a uma família de seis mulheres e um homem.
Minha irmã mai velha, nasceu na época em que São Vicente era apenas um arruado de poucas casas, e de muitos homens trabalhadores, os quais viviam da agricultura, vendendo sua produção à firma W.Siqueira & Piancó.
Meu pai, Antônio Piancó, um homem afeito a grandes amizades, apesar de ter vindo fixar residência na sede do município, continuou ligado àquelas pessoas, por laços, não só de amizade, mas comerciais e políticos.
Desde a mais ternra idade convivi com famílias inteiras de São Vicente, na minha casa a presença delas era uma constante. Habituei-me a ouvir nomes que, ainda hoje, trago bem vivos na minha mente e no meu coração, porque do meu pai recebi a herança de abraçar meus conterrâneos como se fôssemos uma grande Família.
Entre tantos outros, esses eram os nomes que ecoavam na minha casa nos tempos da minha infância e juventude: Agostinho Pereira de Vasconcelos, Oliveiros Ferreira de Albuquerque, Adolfo Gomes Meira, Ananias Nunes, Manoel Avelino, João de Lidinho, Inácio de Altino, e outros.

Há um outro nome que fincou em São Vicente a bandeira do trabalho, da honra e da dignidade, apesar de não ser filho natural. Walfredo Paulino de Siqueira, um baluarte, o maior chefe político da Região do Pajeú, viveu em São Vicente, juntamente com meu pai, Antônio Piancó, trocando dinheiro por mercadoria, na lógica do respeito ao suor do homem do campo: Plantou, colheu, vendeu. Todos tinham renda necessária ao sustento da sua família.
Aquele povo de São Vicente, nas épocas de grandes estiagens, ao perder sua colheita, não morria de fome porque esses homens financiavam a entressafra. Há quem veja sob a ótica da exploração, porque eles eram, além de comerciantes, políticos daquela região. Se assim viam naquela época, hoje ficariam estarrrecidos se presenciassem o tipo de exploração atualmente instalada.

Hoje, o povo de São Vicente pouco produz, vive esperando que o prefeito de Itapetim mendigue nas portas do Estado alguma ação que lhes sirva para o desenvolvimento, como é o caso da pavimentação da Rodovia do Repente, a PE- 263.
Uma ação realizada pelo empenho do prefeito, louvável, diga-se de passagem. A luta pela pavimentação dessa estrada  vem desde os tempos em que eu ainda era menina, lá na minha terra. E Adelmo Moura conseguiu, na 1ª gestão do nosso Governador Eduardo Campos.

Infelizmente, o prefeito desluziu este ato de bravura, a conquista da pavimentação dessa estrada - que, apesar de não ter viabilidade econômica, do ponto de vista social oferece a São Vicente os benefícios da segurança e rapidez no tráfego para deslocamento dos seus moradores - quando construiu uma pequena praça no centro daquele distrito e, por desconhecimento da história do seu povo, deu o nome àquele logradouro público de "Zé Careca".

A inauguração daquela praça ocorrida ontem, dia 5 de abril - dia em que se comemora o aniversário da morte do Padreiro São Vicente, daquele distrito de mesmo nome - enodoou essa data, tão significativa para os católicos.
Para esta festa de inauguração o convidado especial do Prefeito Adelmo Moura, foi  Ex Ministro da Casa Civil, no Governo Luís Inácio da Silva, que teve seu mandato cassado em razão de uma CPI no Senado Federal, que o apontou como sendo o chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos da nação brasileira. Neste dia da inauguração, enquanto o Ex Ministro se deslocava para o meu município, a  Revista Época pubilcava uma matéria noticiando a conclusão do inquério da Polícia Federal sobre o esquema de corrupção denominado o "Mensalão", tendo sido, novamente, o seu Zé Dirceu apontado como o mentor daquele esquema montado no país.
Ligada na Rádio Pedras Soltas, pude acompanhar a entrevista coletiva que o Sr.Zé Dirceu concedeu a imprensa de Pernambuco. O assunto principal da visita de José Dirceu a Itapetim era referente ao período da ditadura - segundo o Jornal do Comércio, na matéria que publicou no dia seguinte - O Zé Careca ficou relevado a segundo plano, mesmo sendo o principal homenageado, cujo nome iria ficar para sempre gravado na praça principal.
Somente ao chegar no Sítio Baixio, onde Zé Careca passou um tempo foragido, é que um morador daquele distrito conhecido como Inaldo Alves de Siqueira, deu a biografia que Zé Careca imprimiu em São Vicente:

- "Ele era uma pessoa muito simples, muito inteligente e se dava bem com todo mundo."

- "Ele adorava jogar bilhar, pagava cachaça para quem não podia e gostava de andar de jumento. Aliás, de 15 em 15 dias ele fazia um churrasco de jumento no sítio, recorda José Hildo Pereira.

E deve ter sido por esses extraordinário serviço, prestado à comunidade de São Vicente, que o Prefeito Adelmo o escolheu. Fica uma pergunta que não quer calar:

Como pode um município -  que sempre teve um passado de glória, representado na memória viva, na memória dos que não morrem, porque ao passar por este mundo deixaram um rastro de realizações, favores, préstimos e, sobretudo, de honradez - batizar uma praça com o nome de alguém que não teve participação alguma na sua história?
Como pode trocar por Zé Careca, o nome Walfredo Paulino de Siqueira, que tanto trabalhou pelo engrandecimento do nosso município e da nossa região?
Compare o que publicaram sobre Walfredo, no dia do seu falecimento, com o depoimento de alguns filhos de São Vicente sobre Zé Careca: 


"Foi com profundo pesar e um imenso sentimento de perda, portanto, que o governador Moura Cavalcanti decretou luto oficial por três dias pela morte de Walfrêdo, determinando que, no seu sepultamento, em São José do Egito, ele recebesse as honras de chefe de Estado, já que assumira o Governo por 17 vezes, no impedimento do titular.
A cidade viveu um dia triste. Delegações e representantes dos municípios vizinhos, especialmente de Itapetim, Brejinho, Santa Terezinha, Imaculada, Tabira e Tuparetama foram render homenagem ao velho chefe político, responsável por inúmeras obras municipais ali realizadas, compreendendo escolas, postos de saúde, postos telefônicos, cadeias públicas etc.
Violeiros e cantadores que Walfrêdo tanto apreciava improvisaram na viola a saga do homem que, sem ter concluído o curso primário, chegou tão longe na vida pública, deixando gravada na memória do povo sua lenda e seu exemplo.A ARENA, partido que então integrava e que abrigava as antigas lideranças do PSD, prestou-lhe homenagem póstuma no II Encontro Regional, realizado em Garanhuns, nos dias 11 e 12 de janeiro de 1976.


Padrinho de batismo de centenas de afilhados, muitos deles, já homens feitos e prósperos na vida, estiveram presentes na última homenagem, exaltando-lhe a grandeza humana com que marcou sua vida na terra."


 (Pinçado de "O Algodão e o Sonho" de Ivanildo Sampaio") 


Em nome dos cidadãos da minha terra natal, em nome de Bernadete, minha irmã, sua afilhada de Batismo, eu quero pedir desculpas pelo o ultraje cometido à sua memória, pela passividade  do povo que o conheceu, pela ignorância da juventude que não chegou a conhecer a sua história, pelo prefeito que, embora conheça, preferiu escolher a figura inexpressiva de Zé Careca, como bode expiatório para uma consolidação de amizade com o réu, Zé Dirceu,  acusado pela Polícia Federal de ser o mentor do Mensalão.
Segundo eu soube, o prefeito contratou um bufet na Cidade de Afogados da Ingazeira, para receber o homem do mensalão com todas as pompas, oferecendo-lhe um jantar, que não tinha nada a ver com o menu do homenageado (Zé Careca), churrasco de jumento.


Hoje ao ler o Jornal do comércio, um grande jornal de pernambuco, eu tive a certeza absoluta de que aquele evento de inauguração da praça não passou de um pretexto para uma aproximação do prefeito com o réu do esquema do mensalão, haja vista não aparecer na reportagem uma foto sequer da praça inaugurada, nem do povo de São Vicente que estava presente.


Então eu me pergunto: Por que cargas d'água Zé Dirceu escolheu o nosso município para uma entrevista coletiva aos jornais e blogueiros do estado? Ele foi considerado pelo Jornal do Comércio como a grande estrela do evento, em asim sendo, teria sido mais prático entrevistá-lo aqui na capital, já que não se deram ao trabalho de se reportar ao evento em si, chegando ao cúmulo de não postaram nenhuma fotografia da praça inaugurada, nem tampouco do povo alí presente.

Só São Vicente, Padroeiro daquel distrito, poderá vir em nosso socorro, no sentido de preservarmos a história do nosso povo:



"Oh! Glorioso traumartugo São Vicente, eleito por Deus para avivar a fé nas almas, lenvantar até o céu os votos da esperança e inflamar nos corações o divino fogo da caridade! Já que com tanta fidelidade desde a terna infância cooperastes com a graça do Altíssimo, por cujo amor tantas almas convertestes e edificastes, sendo honra insigne do clero e do estado religioso, vos suplicamos nos alcanceis da Divina Majestade uma grande pureza de intenção, contínua vitória contra as tentações, grande afeição às coisas santas e um constante pensamento de que Deus está presente a  todas as minhas ações, para que, imitando-vos em vida, logre bendizer a Deus em vossa companhia na glória. Amém."
São Vicente Ferrer (pinçado do orkut de Bernardo Garapa)

Hino a São Vicente


Eu peço desculpas, também, a Maciel Melo, filho de seu Heleno de Louro, um cidadão de São Vicente, que, ao ver o filho partir para São Paulo em busca de realização artística, o aconselhou:
" Meu filho, nunca baixe a cabeça pra ninguém"


E eu espero do fundo do meu coração que esse grande poeta, que tanto nos orgulha pelo seu talento, jamais esqueça do pedido que lhe fizera seu velho pai, na hora em que se viu obrigado a deixar a sua casa em busca de realização.


Maciel inicia essa canção relebrando a música de Agnaldo Timóteo:

"Se algum dia a minha terra eu voltar, quero encontrar as memas coisas que deixei ..."

Não, não vai encontrar, Maciel. Você vai encontrar um tal de Zé Careca em praça pública, ao invés de encontrar, o nome de um cidadão da terra, como o de seu pai, por exemplo, emprestado àquele logradouro.
Teria sido uma festa memorável, nós estaríamos todos presentes para prestigiar o evento que consagraria a memória do seu honrado velho, passando para a posteridade uma história decente. 

Iríamos, com certeza, ouvir na sua bela voz: " Aí eu chorava com saudade dele, mamãe guardava pra ele, um sorriso, um beijo, uma flor ...



E o seu apelo: "Sou um caboclo sonhador, viu, não queira mudar meu verso ..."
Mas mudaram, Maciel,  nosso "verso" foi mudado, desde a hora em que o prefeito imiscuiu na história do nosso povo um elemento estranho às nossas raízes. Que pena!


Outro dia recebi de presente do meu amigo e conterrâneo, Bernardo Ferreira, este vídeo que muito me emocionou pela grandeza da letra de sua música.
Obrigada, meu amigo, é um presente maravilhoso, para nós filhos ausentes. Hoje é uma data memorável para todos nós que nascemos neste município. É memorável, porque nunca vamos esquecer que em São Vicente uma praça recebeu o nome de um tal Zé Careca, ultrajando a memória daqueles que fizeram a história de nossa terra. Estamos prestes a comemomorar, o centenário de Walfredo Paulino de Siqueira, o maior líder político da Região do Pajeú.
Ele foi um dos responsáveis pela dinâmica da economia agropecuária do distrito de São Vicente, por décadas a fio e, entre outros ilustres homens nascidos naquele distrito, também foi preterido para dar lugar ao nome de um forasteiro, terrorista que, pelo simples fato de ter se escondido naquela caatinga, hoje tem seu nome gravado com letras de sangue,  na placa daquela praça. Santo Deus!
Inconscientemente o povo corre atrás do novo e perde o endereço!

11 comentários:

Anônimo disse...

NÃO SABIA DA HISTÓRIA DE ZÉ CARECA E MUITO MENOS O POVO DA REGIÃO SABIA QUE ALI SE ENCONTRAVA ALGUÉM ESCONDIDO PARA O RESTO DA VIDA FOI MAIS UM DESPROTEGIDO DA SORTE ATÉ OS DIAS DE HOJE.MUITOS JOVENS E RELIGIOSOS ENVOLVERAM-SE COM O SONHO DE LUTAR CONTRA A DITADURA MILITAR . UNS TIVERAM SORTE , OUTROS MORRERAM E A FAMILIA NUNCA SOUBE ONDE ESTÃO SEUS RESTOS MORTAIS.. OUTROS INJUSTAMENTE FORAM CATALOGADOS NO DOICODI , VIGIADOS AMEDRONTADOS OUTROS TIVERAM O NOME DE GUERRILHEIROS EXCETO FHC SERRA E OUTROS MAIS SORTUDOS MAS QUE TINHAM OS MESMOS SENTIMENTOS PATRIÓTICOS E DESEJOS DE LIBERDADE HOJE OS GUERRILHEIROS VIVOS FAZEM JUS A UM PASSADO NODOADO SOFRIDO DESCONHECIDO E QUERENDO DAR A QUEM JÁ NÃO EXISTE MAIS UM RECONHECIMENTO DESCONHECIDO DA POPULAÇÃO , RETIRANDO NOMES DE PESSOAS QUE FORAM ÚTEIS A TERRA E A REGIÃO ESQUECENDO TANTOS OUTROS COMO COMO SEJA O NOME DE OLIVEIRA MÉDICO DOS POBRES O CURANDEIRO E TANTOS OUTROS COMO VOCÊ CITOU LUSA.PORÉM É SEMPRE PROVEITOSO OUVIR AS INFORMAÇÕES DESSA NATUREZA , ISTO É OUVIR E ANALISAR AMBOS OS LADOS, COITADO DO ZÉ CARECA QUE NEM PAZ TEM DO OUTRO LADO DA VIDA TERRENA A NÃO SER O RECONHECIMENTO TARDIO DE ZÉ DIRCEU E ADELMO .. SE QUEM FEZ BOAS E RECONHECIDAS OBRAS E SERVIÇOS A BEM DO DESENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE HÁ POUCAS DÉCADAS JÁ ESTÃO ESQU8ECIDOS IMAGINE ZÉ CARECA ,A MENOS QUE RESUSCITASSE PELO MENOS PARA PEDIR QUE OS ESQUECESSEM COMO ELE VIVEU ESCONDIDO.E AONDE? EM SÃO VICENTE ! abraço de carlinda

Lusa Vilar disse...

Querida Amiga Carlinda:

Antes de tudo, muito obrigada pelo teu comentário, aqui nesta postagem.

Longe de mim cercear a tua opinião, teu entendimento.
Nesse caso deixa-me, também, por favor, te explicar o meu pensamento, por sinal, acabei de assistir no canal do Senado Federal, um debate sobre a seguinte a problemática :

A ditadura do pensamento, ou seja, o patrulhamento das idéias.

Estabeleceu-se no país, depois da vitória do PT, que todo e qualquer pensamento das pessoas, que não pertenceram a esquerda brasileira, é a favor da ditadura, ou seja, é contra os princípios da democracia.

Seja qual for o partido político ao qual estejamos vinculados, ou mesmo se formos apartidários, a Democracia deve ser a nossa maior aspiração.

Abominar a ditadura é não esquecer nunca o Grande Ulisses Guimarães quando disse:"Tenho ódio e nojo da ditadura."
Ser a favor da ditadura é uma coisa, e ser a favor de terrorismo é outra bastante diferente.
Se fosse válido misturar as duas coisas, poderíamos entender porque Bin Landen vem cometendo atrocidades, como por exemplo, derrubando as torres gêmeas sem se preocupar com milhares de inocentes que iriam morrer em nome da sua ideologia.

Como posso achar que os Estados Unidos mereciam isso? Pais, mães. filhos, famílias inteiras aguardavam a volta dos seus entes queridos do trabalho, e eles sucumbiram naqueles entulhos, em nome da ideologia de Bin Laden e os seguidores loucos desse terrorista mor.
Continua ...

Lusa Vilar disse...

(Para Carlinda, continuação)

Não amiga, minha admiração vai para Dom Hélder, Miguel Arraes, Tancredo Neves , Juscelino Kubitschek, Teotônio Vilela, José Serra, Leonel Brizola .... porque não assaltaram bancos, não explodiram bombas, não seqüestraram, não ceifaram vidas.
Eu assisti aos filmes do horror: O da tortura promovida pelos militares, e o dos terroristas que seqüestraram o Embaixador Americano.
Em questão de horror eles se equivalem. Não importa a motivação, os meios não justificam os fins. Era tortura, era sangue derramado, cada qual na defesa das suas ideologias. Mas não passavam de terror, puro terror.

Eu nunca fui seqüestrada, graças a Deus. Nem eu, nem ninguém da minha família, como também ninguém foi preso no período da repressão.
Mas experimentei como se sente uma pessoa que tem um ente querido seqüestrado:
A semana passada um bandido ligou para minha casa e colocou uma moça aos prantos ao telefone, ela gritava desesperadamente:

"MAINHA, FUI SEQÜESTRADA E ELES ESTÃO AMEAÇANDO ME ESTUPRAR E DEPOIS MATAR, se você não for ao banco retirar a quantia que eles querem pela minha liberdade. "

Deus sabe o que eu senti, quase morri de aperreio. E era um trote, Graças a Deus. Mas eu tive a exata noção do que sentiram a mulher e os filhos do Embaixador Americano, quando os terroristas ligaram para eles fazendo as exigências e ameaçando matar o homem, caso o Governo não cedesse as suas exigências. Continua ...

Lusa Vilar disse...

(Para Carlinda, continuação)

Qual a diferença entre o seqüestro comum para os que praticaram os terroristas na época da ditadura? O motivo. Simplesmente o motivo.

Enquanto àquele (o suposto seqüestro da minha filha) queria apenas dinheiro, o outro, o do Embaixador, queria anistia para os presos políticos.

E a dor da mãe, da mulher, do filho, envolvidos em um seqüestro? Qual será a maior? São iguais, são irmãs siamesas, não têm diferença alguma. Ninguém de sã consciência tem filho seqüestrado e acha que se for pela democracia pode matá-lo.

Vou te contar como passei outro susto grande em 1967, quando vim estudar aqui na capital. Estávamos com 4 anos de regime militar.
Naquele dia eu havia ido fazer provas para o vestibular de medicina, ao terminá-las, pensei que iria voltar para minha casa.
Acontece que os estudantes daquela Universidade Federal, encostaram um ônibus na porta da Faculdade e amarraram cordas da porta do ônibus à porta daquela instituição.

Fizeram um corredor, e nos obrigaram a entrar naquele ônibus, cometendo, assim, um ato de violência naquela intentona.
Seguimos, todos, obrigados, sem chance de não querer ir, sem liberdade para descer do ônibus. Levaram-nos até a Conde da Boa Vista e, ao chegar no Colégio Pernambucano, novamente estenderam as cordas, (do ônibus ao colégio, novo corredor) e nos fizeram descer, fechando os portões.

No pátio do colégio havia um vasto material com inscrições de insulto aos militares e a ditadura em si. Lembro-me que três deles, de barbicha, mal encarados, vieram em minha direção e me entregaram um cartaz no qual estava escrito:

" Abaixo a Ditadura".

Imagine a minha tremedeira, recém chegada de Itapetim, matuta, menina (17 anos) ...
Quando li o que ali estava escrito, eu falei:
- Ah! eu não vou carregar isso não.
Meu Deus, pra que eu falei isso! Encostaram mais outros marmanjos e disseram:
- Ah! vai. Se não vai começar a apanhar agora. Um outro, bonzinho, veio em meu socorro e implorou que eu segurasse aquele troço na mão.
Continua ...

Lusa Vilar disse...

(Para Carlinda, continuação)

Enquanto isso, eles já estavam preparando a Avenida Conde da Boa Vista, cordão de isolamento de corda e de pessoas, formando um enorme corredor.
Eles falaram:
- Vamos sair em passeata até a Pracinha do Diário, e nos empurraram para fora do Colégio.
O maior medo que eu estava sentindo, era que eles descobrissem que eu morava na casa de Francisco Perazzo, genro de Walfredo Siqueira, e naquela época ele era o secretário do Governo Eraldo Gueiros.

Pois bem, lá vamos nós. Eu com tal cartaz na mão e eles me vigiando. Quando chegamos à Pracinha do Diário, a cavalaria já estava perfilada. O mundo estava preto de militares.

Eu me tremendo toda, segurando na mão de Sônia Canavarro, uma velha amiga, colega de cursinho, e o suor descendo de bica. De repente eles soltaram os cavalos para cima da passeata, espalharam militar pra tudo que era lado, e saímos todos em disparada, procurando lugar para se esconder.

Deus nos iluminou e corri em direção a um táxi que estava vazio e estacionado. Quando pus a mão na porta do carro estava destravada.
Agarrada à minha colega, entramos. E ficamos agachadas, derramando a última gota de suor e sentindo nos ouvidos o tum-tum do coração.

De vez em quando eu "arriscava um olho", e via cenas horripilantes: Eles desciam o cacetete nas costas dos meus colegas, os que foram apanhados. E eu tenho a convicção de que, se não morreram naquele dia, morreram posteriormente de seqüelas provocadas pelas pancadarias.
Continuávamos ali, dentro daquele táxi, esperando ser apanhadas também, ou, que as coisas voltassem à normalidade.
Eu havia saído de casa pela manhã, para me submeter ao vestibular. Já era meia noite e eu ainda não havia voltado.
Continua ...

Lusa Vilar disse...

(Para Carlinda, continuação)

Quando o Exército se retirou da praça, o coitado do dono do táxi voltou e, ao abrir a porta, quase morre do susto de nos ver ali agachadas.
Contamos nossa história pra ele, mas ele não queria nos levar em casa, dizendo que não queria envolvimento com comunistas.

Meu Deus! Eu, comunista! frouxa, toda me tremendo, e de Itapetim, rsss
Enfim, ele concordou. E minha colega exigiu que eu fosse primeiro deixá-la, porque o pai dela não iria acreditar naquela história.
E lá vamos nós, para o Bairro do Cordeiro, Avenida São Martins. Ao chegar, conversei com o pai dela, e o motorista também ajudou a contar a história. Depois disso o táxi me levou para a Torre, Av Conde de Irajá e, ao chegar em casa, Ivone e Perazzo estavam enlouquecidos, porque assistiram ao noticiário e viram o quebra-quebra na Pracinha do Diário, já estavam me dando como morta ou como presa.
Eu te contei tudo isso, amiga, para que tu possas entender a minha repulsa a ambos os lados, pois nem sempre estamos diante de cidadãos, só pelo fato deles terem sido mortos pela repressão.

Atitudes arbitrárias, naquela época, havia dos dois lados. Violência, morte e verdadeiros bandidos infiltrados, disfarçados, dentro dos grupos criados pela liberdade democrática.

Não podemos por de lado a razão e deixar que a emoção de "Tornar a Pátria Livre", nos tire a capacidade de diferenciar aqueles que não perderam a honra e a dignidade em busca de uma causa nobre, daqueles que mataram e sagraram inocentes.
Continua ...

Lusa Vilar disse...

(Para Carlinda, continuação)

O Zé Dirceu, que está incluso na categoria de seqüestrador, assaltante a bancos, terrorista, se esconde debaixo das glórias daqueles que lutaram pela democracia, sequer honrou o sofrimento do Embaixador que quase morreu em troca de sua liberdade. Como um bandido irrecuperável, ao ganhar anistia,segundo a conclusão da Polícia Federal, voltou a cometer crimes contra a nação, assaltando os cofres públicos e armando o maior esquema de que se tem notícias: O mensalão.Não sou eu quem está dizendo. Foi o prório Congresso Nacional quem cassou seu mandato e o denunciou a Justiça.

Então, eu te pergunto:

Como posso ficar feliz, sabendo que o prefeito da minha terra preteriu nomes ilustres (como os que citei na postagem) da terrinha em favor desse cara que não tem nada a ver com a nossa história?

O único mérito de Zé Careca foi se esconder em São Vicente. Não podemos esquecer que ele se escondeu, não pela ideologia que tinha, mas pelo crime que cometeu. O Exército estava atrás dele para que pagasse a dívida pelo seqüestro e ameaça de morte ao Embaixador. Aí, vem o prefeito e condecora esse cara no meio da praça daquele povo ingênuo, pobre e sofredor.
Ainda mais recebendo com pompa um homem que vai ser julgado porque tirou a comida da boca dos pobres, o remédio dos doentes; a educação das crianças... Sim, porque o dinheiro que o "Valerioduto" levou, fez falta para tudo isto.


E na defesa daquele povo, sofri por parte de um filho de São Vicente, que mora em Brasília, as piores grosserias, sobre um comentário que fiz no Blog do Magno, sobre estas qüestões.
No entendimento dele, eu estava fazendo políticagem barata contra Adelmo. Inclusive chegou a me culpar pela derrota de Carlos Rêgo, dizendo que foram meus discursos de campanha que o derrubaram. Ora, meus discursos estão lá, no "Carlos Vilar: O Homem Público", gravados. Nunca fiz acusação pessoal a ninguém, nunca disse que ninguém era ladrão. Preguei a liberdade de um povo que vivia subjugado a Zé Lopes, e a linha da minha fala estava em perfeita consonância com a de Carlos Rêgo. Então, não perdemos pela minha fala, perdemos pelas nossas falas, já que eram iguais.

Coitado desse homem de São Vicente, ele não alcançou que eu estava defendendo a terra dele de uma ação desmoralizadora para com o passado respeitavel do seu povo.

Mas tudo bem, eu o desculpo, ninguém tem a obrigação do alcance, do entendimento.

Lusa Vilar disse...

(Para Carlinda, continuação)

Deveria haver uma lei que obrigasse os municípios colocarem no curriculo escolar a obrigatoriedade dos alunos assistirem a TV Senado, TV Câmara, para essa juventude ouvir debates sobre as questões da nação brasileira, ouvir discursos como os de Pedro Simon, Aércio Neves, enfim, de todos aqueles eloqüentes, que sabem abordar as problemáticas desse país.

Muitos políticos hoje não são espelhos pra ninguém, mas se eles tivessem certeza de que o povo acompanhava a fala deles, irião pensar duas vezes antes de falar.
O mérito de ouví-los está em saber cobrá-los posteriormente e, independente disso, em cada fala você tem um Raio X dos problemas brasileiros. E não são eles nossos representantes? Precisamos saber se estão fazendo à altura. Não dá para dialogar com um povo que na hora do Jornal Nacional desliga a TV, na hora do BBB, ninguém pode dar uma palavra.
Eu me lembro de quando meu pai apoiou Dr. Honório Rocha para Deputado Estadual, ele foi passar uma semana na minha casa.
Ficava sentado no terraço recebendo o povo. Ele tentando falar em projetos para Itapetim e as pessoas pedindo uma ¨"ajuda" , um chinelo, um pneu, um botijão de gás e por aí vai... E ele atordoado dizia: Não, eu não tenho condições para issso. Eu quero lutar por estradas, por água, educação ...
Nisso, pai foi chegando no terraço e presenciando aquele diálogo, entrou apressado e disse: Minha filha, veja se tira Dr. Honório do terraço que ele tá acabando com os votos que eu arrumei pra ele, rssss

Claro que não são todos, mas infelizmente esse é o retrato da maioria do nosso povo, e não é só no interior, é nos quatro cantos desse país.

Lusa Vilar disse...

(Para Carlinda, continuação)

Você está me entendendo, querida? É muito difícil. E por causa desse fato que se passou com Dr. Honório, certa vez eu disse a Carlos Rêgo, que ele falava muito nos discursos sobre essa mendicância do povo. Ele dizia que:

"Se fosse o prefeito não admitiria ninguém humilhado na porta dele, que a intenção do governo dele era promover o emprego e fazer as instituições funcionarem, de modo a prover as necessidades do povo"

Aí eu dizia: Muita gente vai voltar pra Zé, porque ele já viciou, eles pedem na porta dele, e ele dá, e ninguém desconfia que isso está errado. Eles acham que prefeito bom, é sempre aquele que dá a esmola maior. É triste.

Obrigada, amiga, pelo teu comentáriO à minha postagem
"ESQUECECERAM AS RAÍZES DO NOSSO CORAÇÃO"

Anônimo disse...

Quando li no "Jornal do Comércio", de 27/03/2011, sobre o guerrilheiro Zé Careca, amigo e companheiro de Zé Dirceu que, juntos após serem deportados para o Chile, foram fazer curso de guerrilha em Cuba, visando a tomada do Poder pelas armas. Voltaram, clandestinamente, para o Brasil, em 1971, e cada um escolheu um esconderijo. No caso em tela, o Zé Careca escolheu Itapetim, mais precisamente um sítio próximo a São Vicente, onde permaneceu até ser informado que as forças legais
já sabiam que ali se escondia. Incontinente, foi para a Bahia, seu Estado natal, e lá foi morto, por motivo bem merecido, em 1974. Agora, sou tomado de surpresa e vergonha, que esse desqualificado mereceu o reconhecimento do Prefeito local, dando-lhe o nome de uma Praça, e, o que é pior, com a presença do mais astuto dos guerrilheiros e mensaleiros, o perigoso Zé Dirceu. Quantos pessoas, ilustres ou não, foram preteridas por esse guerrilheiro e forasteiro. Sinceramente, estou revoltado com tamanha subserviência de uma singela cidade, que é rica, não só em sua história, como de filhos que muito mais mereciam a homenagem. Com enorme vergonha,
Miguel Pereira

Anônimo disse...

LUSA APESAR DE JÁ TER FEITO UM COMENTÁRIO A RESPEITO DAS HOMENAGENS FEITAS A ZÉ CARECA,ZÉ DIRCEU, VEJO QUE NÃO SEI DE NADA ESPECIALMENTE QUANDO SE REFERE A POLÍTICA PARTIDÁRIA, DAS ÉPOCAS PASSADAS E DA DITADURA. SOFRÍ TAMBÉM SEM SABER O" PORQUÊ" NUNCA FALEI NA INTERNET POIS É UMA LONGA HISTÓRIA, ATÉ INTERESSANTE POR SE TRATAR DE UMA PESSOA RELIGIOSA E SEM POLITIZAÇÃO, ISTO É SEM OBJETIVO DE CRITICAR O GOVERNO E SIM DE TRABALHAR NAS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE ,EVAGELISANDO , ALFABETISANDO DENTRO DA LINHA DE PAULO FREIRE ATÉ O MOMENTO DA PRISÃO. FUI TRANSFERIDA PARA OUTRAS CIDADES, NA CONDIÇÃO DE NÃO PREGAR O EVANGELHO NAS COMUNIDADES CARENTES E NEM DAR AULAS DE RELIGIÃO E HISTÓRIA.COM AJUDA E ORIENTÇÃO DE DOM HELDER CÂMARA ,E MARCELO CAVALHEIRA. OBEDECI. DEPOIS QUE SAÍ DO CONVENTO AO CHEGAR EM BRASÍLIA QUE ENCONTREI MEU PRIMO PAULINO MILITAR, E NOS CASAMOS E,COMO PROFESSORA E PSICÓLOGA DA SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO DF, FOI QUE ATRAVÉS DO SINDICATO DOS PROFESSORES TOMEI CONHECIMENTO DA REALIDADE DA DITADURA E OPRESSÃO MILITAR.QUANTO A EXPOSIÇÃO DOS TEUS TRATADOS SÓ TENHO A AGRADECER POR MAIS INFORMAÇÕES E CONHECIMENTO DA REALIDADE CONCERNENTE A SITUAÇÃO EM PAUTA. abraço de carlinda