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quinta-feira, 21 de abril de 2011

O CENTENÁRIO DE WALFREDO PAULINO DE SIQUEIRA



Para os familiares de Walfredo Paulino de Siqueira

É com imensa saudade desse homem que foi para meu saudoso pai, Antônio Piancó Sobrinho, inicialmente um patrão, e, com o passar dos anos, seu maior amigo, seu ídolo, seu sócio, a quem ele seguiu políticamente até o dia em que ele deixou de existir entre nós. Mesmo depois de morto, o nome de Walfredo Siqueira continua, para nós descendentes de Antônio Piancó, decantado com muito orgulho e com muita gratidão.

Hoje, recebo das mãos de seus filhos, Zita e Carlos, o convite que foram levar em Itapetim para a nossa família  assistir a comemoração do centenário do seu nascimento, o que muito nos honra.

Quero agradecer aos filhos de seu Walfredo, por eles não terem esquecido que durante décadas a fio os nomes de Walfredo e Toinho jamais puderam se dissociar, porque suas vidas foram unidas pelo trabalho, pela bravura, pelo respeito e pelo mesmo sentimento de servir ao povo da terra em que nasceram.
Meu pai sempre dizia, humildemente, tudo que sou, tudo que tenho e tudo que venha a ter, eu devo a um homem chamado Walfredo Siqueira, que me acolheu em suas empresas, quando fiquei orfão de pai aos 15 anos de idade, ele foi para mim o pai que inesperadamente perdi.

"Enquanto vida eu tiver, seguirei o caminho que seu Walfredo indicar, porque aprendi que a maior qualidade do ser humano é saber ser grato àqueles que nos estendem a mão nas horas mais difíceis da nossa vida. E foi isso que ele fêz por mim"

E complementava, para estender esse sentimento de gratidão a todos os seus filhos:
"Vocês rezem para seu Walfredo não ir para o partido do "cão", porque nós teremos que ir atrás"

E a sua profecia se cumpriu, todos os seus filhos, ainda hoje, guardam as lembranças desse grande homem, que viveu entre nós de maneira tão presente no sso cotidiano, que às vezes confundo o seu nome com o do meu próprio pai.

Obrigada, Seu Walfredo, tenho certeza de que Deus, na sua infinita bondade, permitiu o  reencontro com o seu grande amigo, Antônio Piancó, e no dia 21 de maio estarão assistindo juntos as comemorações pelo seu centenário.

Lusa Piancó Vilar, em nome dos filhos de Antônio Piancó Sobrinho.


Depoimento de Walfrêdo, concedido a Leila Gebrin
 Jornal de Brasília - Maio de 1973






"Eu sou um homem da região do Pajeú – dizia ele – no Sertão de Pernambuco. Comecei a trabalhar muito cedo, com a idade de 11 anos. Na época de minha infância, havia dificuldade para estudar, de maneira que só consegui fazer o Curso Primário.

Nasci em São José do Egito, onde passei toda a minha vida. Ainda muito jovem, com apenas 17 anos, ingressei no serviço público, como secretário da Prefeitura local. Nessa condição, já em 1930, participei do movimento revolucionário, incorporando-me às Forças Paraibanas que invadiam o Estado de Pernambuco.

Em 1936, senti que não tinha vocação para a vida burocrática e mudei para o comércio. Nessa época, era proprietário de um armazém de ferragens. Já em 1939, passei para o comércio e a industrialização do algodão, atividade que exerço até hoje, aliada à criação de gado.

Política, propriamente dita, só (comecei a fazer) a partir de 1945, com a redemocratização do País. Fui convocado pelo então interventor, Agamenon Magalhães, que me incumbiu da organização do PSD no município.

Participei da campanha do presidente Dutra e, mais tarde, da do governador Barbosa Lima Sobrinho e de todas mais que se realizaram no Estado, daquela época para cá.
Além do cargo de prefeito do município, que exerci por duas vezes, fui eleito por três vezes para a Assembléia Legislativa do Estado, onde tive a oportunidade de presidir a Comissão de Finanças e ser presidente da própria Assembléia por dois mandatos.

Nunca gostei de política, mas nunca deixei de ser político. O convite para a Assembléia teve muita importância. Mas o que pesou muita nesta decisão foi a gratidão que devia a um amigo (Pe. João Leite? José Borja?) a quem não poderia faltar. Fora ele o veículo de minha aproximação com o então interventor de Pernambuco, Agamenon Magalhães. Nesse período de quase 30 anos tenho tido muitas vitórias e muitas alegrias, entremeadas por decepções e contratempos, naturais na vida política de qualquer pessoa.

Voltando à época da Presidência da Assembléia, numa mesma ocasião fui cumulativamente presidente da Casa e vice-governador, condição na qual assumi o Governo do Estado várias vezes” (foram 17).
Depois do terceiro mandato, tomei a iniciativa de me substituir, tive a sorte de eleger dois genros, um para a Câmara Federal, o deputado Josias Leite, e outro para a Assembléia Legislativa, deputado Francisco Perazzo, ambos reeleitos no último pleito.

Voltei às raízes e continuo nas atividades tradicionais, considerando-me um homem realizado, tanto na parte política, quanto na empresarial e familiar, especialmente porque estou terminando a grande batalha de encaminhar os 11 filhos na vida.
Sobre a minha terra, posso dizer que se trata de região de gente destemida e inteligente, destacando-se como a capital nordestina dos violeiros e cantadores. Foi uma cidade de vida muito agitada, sob o aspecto político, especialmente a fase de 1908 a 1913. Nessa época houve a luta pela direção política local, entre as famílias Santana e Dantas.

Depois dessa fase, em conseqüência do rigor e da luta, veio uma calmaria, só voltando (o município) a
apresentar maior interesse político após a Revolução de 30.
Apesar de encravada no Alto Sertão de Pernambuco, nunca sofremos diretamente as conseqüências do bando de Lampião. Indiretamente, sofríamos muito. Na minha região nasceu o célebre bandoleiro Antonio Silvino, que no seu tempo foi o maior cangaceiro da região nordestina, convindo salientar que, tanto Antonio quanto Lampião tornaram-se bandoleiros para vingar o assassinato de pessoas de sua família. No caso de Silvino, ele tentou vingar, mas não conseguiu matar os assassinos do pai. Depois que saiu da prisão, tornou-se um revoltado e morreu de velhice. Fim um pouco inglório para um dos maiores cangaceiros do Nordeste.

O nordestino é homem brasileiro que apresenta maiores qualidades de resistência. Aceita as inclemências da natureza, luta contra elas e jamais desanima. Hoje, com as facilidades do transporte e com o progresso de outras regiões do País, especialmente do Centro-Sul, o nordestino emigra com maior facilidade. Mas, jamais deixa de voltar para o seu torrão periodicamente, ou de dar assistência financeira aos seus familiares que ficaram no Nordeste.

O relacionamento familiar é uma constante do nordestino, bem como exercer a disciplina e a tradição de respeito à família.

Meu temperamento é otimista, dificilmente me aparece um motivo que me esmoreça a disposição.
Entretanto, a vida com alegria, aceito-a como ela vem. Não sou muito de protestar, nem de me conformar com as dificuldades a acidentes ( o fatalismo de quem perdeu a mãe aos 7 anos e aos 11 já saía de casa cedinho para trabalhar?). Meu prazer é o bem-estar de minha família. É minha única preocupação e, se tudo esta bem com ela, vejo como minha maior alegria.

Na minha região, detenho a amizade e o respeito quase unânimes da população; por isso mesmo, nas chamadas médias ou modestas, compreendendo aí violeiros, repentistas, vaqueiros etc., sempre desfrutei de um certo convívio, que termina se traduzindo em confiança mútua.

Tenho, neste ano de 1973, exatos 62 anos de vida e acho que a juventude dos dias atuais tem um grande triunfo nas mãos, decorrente do progresso, do desenvolvimento, da tecnologia, das facilidades de instrução.

Mas, é necessário, quase indispensável, que essa juventude se aperceba mais desse privilégio e compreenda a responsabilidade que a ela está sendo atribuída.


Walfredo Paulino de Siqueira."
(Pinçado de "O Algodão e o Sonho" de Ivanildo Sampaio - Perfil Parlamentar do Século XX)

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