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sexta-feira, 2 de março de 2012

OS IRMÃOS ZÉ VIEIRA E JOÃO BOM - EX-COMPONENTES DA PPFOM

Os irmãos Zé Vieira e João Bom - ex-músicos integrantes da orquestra de Itapetim (PPFOM) na década 60/70


A saudade que sinto dos antigos carnavais de Itapetim tem a essência da poesia de um dos nossos grandes poetas, Antônio Pereira, que assim a definiu:

"Saudade é como um parafuso
 Que quando na rosca cai,
 Só entra se for torcendo,
 Porque batendo não vai,
 Depois que enferruja dentro,
 Nem destrocendo não sai".

Enferrujou, criou raízes no meu coração, não somente no meu, mas no de todos aqueles que desfrutaram daqueles tempos em que éramos felizes e não sabíamos.

E foi com o coração sangrando de saudades que a filha de Zé Vieira, Linda Simões, comentou a minha postagem anterior: " ITAPETIM, HOJE SEM CARNAVAL".


Linda Simões disse ...

"Com lágrimas de saudade, diante de tua narrativa, lembro de alguns carnavais que meu pai (Zé Vieira) e meu tio (João Bom) tocaram, com tanta habilidade, com tão grande amor à música, ao momento, à vida.É impressionante como o teu post me faz imaginar o quão esperado era esse momento de festa, de confraternização! Sim, confraternização.No carnaval! É possível, sim. Muitas pessoas ficavam à frente da orquestra, embevecidas, entregues àqueles momentos de um prazer que só a música pode proporcionar.Sem atropelos, sem confusões e sem violência. E depois,"arrudiando" o salão, pobres e ricos, sem preconceito, numa alegria geral...Dando voltas e voltas, risadas, acompanhamento das músicas que a orquestra tocava lindamente...Ai, saudade. E eu era somente uma criança, que vestia a fantasia e brincava a maior parte do tempo! Pois é, somos co-responsáveis por essa "lacuna" que agora se apresenta nos "carnavais" da modernidade globalizada.Será que ainda há tempo de plantarmos a "fantasia" e resgatarmos a história, construindo novos parâmetros para que a nossa própria história não morra?Sempre se pode elaborar um projeto e de mãos dadas com os filhos saudosos, independente de crenças políticas, classes sociais ou credo religioso, fazer a nossa parte, fomentando o interesse e o fortalecimento de "raízes" para a questão cultural e histórica de nosso povo.Um abraçoLinda Simões"

Tom de Dona Celina Lopes, abraçado com as amigas ....?

E assim, com as lembranças enroscadas na mente e no coração, Linda visualizou cenas que foram registradas em fotos, cujo valor para quem viveu àquela época é incomensurável:
"Sem atropelos, sem confusões e sem violência. E depois,"arrudiando" o salão, pobres e ricos, sem preconceito, numa alegria geral...Dando voltas e voltas, risadas, acompanhamento das músicas que a orquestra tocava lindamente..."

Salão Grande do Padre João
Professor Heráclio, ladeado à esquerda por Nilda (in memoriam), esposa de Evaldo Costa, e à direita por Vilma Ricardo.


Eu e Carlos Rêgo no meio do salão.





Dona Natália Ventura (in memoriam), na cabeça da mesa.
Laudenor (in memoriam) com Lourdes, sua noiva (hoje a viúva) sentado à frente do querido casal Socorro e Eudinho, ao seu lado esquerdo, eu, Carlos e Zé Fernando Vilar. Depois de Eudinho: Socorrinho Ventura, Coca de Tim, Jovelina Torres, Vilar Júnior e Maria do Socorro Rêgo.
Sentada, junto de Socorro Rêgo, Zilda de Tia Finoca (in memoriam)

E continua Linda Simões, no seu comentário, revivendo os nossos carnavais de outrora, descrevendo cenas que ouviu de outrem, cenas da sua memória de criança, da memória que não morre, pelo simples fato de ser a memória do coração, aquela onde ficam guardados os nossos amores, as nossas paixões, a nossa gente, a nossa família, a nossa terra natal... 
"É impressionante como o teu post me faz imaginar o quão esperado era esse momento de festa, de confraternização! Sim, confraternização. No carnaval! É possível, sim. Muitas pessoas ficavam à frente da orquestra, embevecidas, entregues àqueles momentos de um prazer que só a música pode proporcionar"... 
Linda Simões aos cinco meses de idade - 1968
Fonte (facebook de Angelita Simões, mãe de Linda)
"Ai, saudade. E eu era somente uma criança, que vestia a fantasia e brincava a maior parte do tempo! Pois é, somos co-responsáveis por essa "lacuna" que agora se apresenta nos "carnavais" da modernidade globalizada."
Eu já tinha meus dezenove anos, quando Linda ainda era um bebê de 5 meses. As nossas raízes já haviam se entremeado, através da amizade que unia a minha família ao seu avô seu Cícero Vieira. Zé Vieira e João Bom, seus tios, além de músicos, desempenharam as profissões de mestre de obras e marceneiro, respectivamente.

Hoje, Zé Vieira, já com idade avançada, deve sentir orgulho quando passa defronte a casa dos meus pais, a qual foi construída por seu Cláudio Leite em 1953, e por ele, ainda quase um menino, como discípulo desse grande mestre. Anos mais tarde a casa passou uma grande reforma, cujos serviços lhes foram confiados, e sob sua direção os pedreiros realizaram a nova planta elaborada pelo arquiteto autodidata que foi meu saudoso pai.

Nossa casa reformada pelo Mestre de Obras Zé Vieira.
Detalhe: Ainda não tínhamos calçamento, e a casa é situada na entrada principal da cidade, imagine a situação da periferia.
Debruçados na varanda: Meu pai e minha mãe (in memoriam)
Não consigo conhecer a pessoa que passava pela calçada, naquele momento.
Fotografia encontrada na pasta de documentos do meu saudoso pai (em 1991, ano em que faleceu)

Zé Vieira

Mas se a construção da nossa casa ainda hoje é motivo de orgulho para nós e para o próprio Zé Vieira, o que dizer da nossa maior edificação, que é a nossa Igreja Matriz, uma das mais belas do nosso estado, cuja construção pelo mestre Cláudio Leite traz também a marca das hábeis mãos desse artista plural que, além de músico, foi também um grande mestre de obras? Talvez, se possa dizer que ele é, sem dúvida, um engenheiro sem diploma.

1953

A arte e a habilidade dos filhos de seu Cícero Vieira não estão apenas na memória do povo da minha terra, estão materializadas nas obras que deixam para a posteridade. Cada um deles revelava seu talento no que se propunha a fazer, deixando sempre a marca de qualidade nos trabalhos desenvolvidos, a seriedade e a honestidade no trato com o cliente, atributos que atualmente estão se tornando cada vez mais raros.  Se Zé Vieira consagrou seu nome na alvenaria, veja o que foi capaz de fazer o mestre João Bom como carpinteiro:


Cama do casal Antônio e Rita Piancó (feita por João Bom)

Conservada até hoje na casa dos meus pais, é uma obra de arte feita pelas mãos habilidosas de seu João Bom, que passará para a minha posteridade.

Depois desse passeio no túnel do tempo, provocado pela poetisa Linda Simões, só me resta agradecer-lhe por interagir nesse blog, com o seu brilhante comentário, fechando essa postagem com um dos seus belos poemas:

DAS COISAS QUE EU SEI

Das coisas que eu sei
Sou eterna.
Levo comigo o conhecimento
E na volta,
Reconheço-me
Nas coisas que eu sei.
Trago na bagagem o essencial
E em cada paragem,
Adiciono-me
Nas coisas que eu sei.
Das coisas que eu sei
Nem mesmo sei.

6 comentários:

Anônimo disse...

REALMENTE NÃO DÁ PARA ENTENDER ITAPETIM SEM UMA MARCHA DE CARNAVAL , SEM NENHUM COMENTÁRIO OU EXPLICAÇÃO DE TANTA INÉRCIA DA COMUNIDADE, QUE PARECE ESTÁ MAIS COMPUNGIDA DO QUE A SEXTA FEIRA DA PAIXÃO. CAD A ALEGRIA DO POVO ? COMO FALA LINDA SIMÕES DOS BONS TEMPOS ,E AS FOTOS MOSTRANDO QUE HAVIA VIDA, CUMPLICIDADE E MUITA HARMONIA E FRATERNIDADE . É GRATIFICANTE DAR UMA PASSADA NO RAIZES DO CORAÇÃO , E VER TANTA GENTE NOSSA , UMA VERDDADEIRA FAMÍLIA ITAPETINENSE QUE NÃO DEIXAS QUE O ESQUECIMENTO SEPULTE DE VEZ ESSES SENTIMENTOS QUE AINDA NOS ENVOLVE NA SAUDADE DAQUELES MOMENTOS , PARA QUE OS MAIS JOVÉNS SAIBAM QUE ITAPETIM TEM HISTÓRIA E ESPERAMOS QUE ELES REAJAM E FAÇAM RENASCER ESSE ESPIRITO DE SOLIDARIEDADE E AMIZADE CRIANDO NOVAS FORMAS DE RELACIONAMENTO INTERCÃMBIO SOCIAL.abraço de carlinda

Linda Simões disse...

Lusa!

Quando eu parar de chorar, venho aqui agradecer!

Precisamos marcar um encontro, são muitas emoções!

"Isso vale um abraço,conterrânea"

E vou dá-lo pessoalmente!

Beijos,

Linda Simões

Carlos do Rego disse...

Amor, Linda Simões tem razão, não dá para ler e ouvir "é de fazer chorar" e não chorar, é muita saudade de um tempo que não volta mais, quantos nessas fotos que já partiram, outros que se afastaram de Itapetim e não mais voltaram, bate um sentimento de perda, precisamos nos unir e tentar passar para esta geração, o sentimento de amor a nossa terra, a irmandade que tínhamos naquela época.

manuela baptista disse...

é possível a alegria

e bonita a amizade!

na fantasia maravilhosa que é a vida, a Linda, a nossa amiga querida de Olinda e que assim de supetão nos dá a conhecer o seu pai e as raízes do seu coração

grata às raízes deste coração, pela página!

um abraço

manuela

Linda Simões disse...

Lusa,

Há coisas que não esquecemos... Há choro que não seguramos... Há gestos que são guardados na memória do coração... Palavras para quê, se nem conseguimos traduzir a emoção que nos invade a alma diante de pessoas especiais que nos valorizam,que nos mimam,que nos remetem às "raízes" de uma forma suave e aconchegante,além de elegante? Você nasceu assim: Linda, exuberante ! Vai ser sempre assim. Cuida dos seus,das suas memórias e ainda cuida das nossas,como se fossem suas,com a graça e a delicadeza que fazem parte de seu caráter... CLAP!CLAP!CLAP! Obrigada, Lusa.A poetisa é VOCÊ ! CLAP! CLAP! CLAP!

E concordo com o Carlos quando diz que precisamos fazer algo para não perdermos nossa história,nossas memórias.Conte comigo.

E,a propósito, devias lançar um livro com essas memórias,que são o resgate puro da história de um povo.Com tuas narrativas e com o acervo fotográfico que tens...
Quem sabe, sabe. E tu sabes.


Um beijo, conterrânea.

Linda Simões

wanderley TAVARES disse...

Boa boite meus amigos,

Não deixem de atualizar e contar a história de Itapetim nesse Blog ,ele é uma relíquia que poucos conhecem e não pode se apagar no tempo.Itapetim e seus moradores devem ficar registrados na história.Pois eles fazem parte e sã a história de Itapetim.

Wanderley Tavares de Lima
Filho de Pedro Preto (Pedro Genuíno)