Carnaval de 1968 - Salão Grande do Padre João Leite
Lusa e Carlos com os saudosos amigos: Dona Ivanira de Barros Leal
e Dr. Clístenes Péricles Leal (in memóriam)
Dr. Clístenes foi o primeiro médico que residiu em Itapetim. Na quarta-feira daquele carnaval de 1968 foi acometido de uma trombose na carótida esquerda, tendo sido removido para a capital do estado, Recife, veio a falecer poucos dias depois. Dona Ivanira, sua esposa, foi Diretora do Grupo escolar D. José Lopes e do Colégio Tereza Torres, faleceu muitos anos após a morte do seu esposo Dr. Clístenes.
Dedico-lhes a postagem de hoje.
Escute isso!
Bandeira branca (Dalva de Oliveira)
Gente, eu sou do tempo em que na minha terra natal se brincava o carnaval. Eu sou do tempo em que as famílias itapetinenses tinham um espaço físico muito precário para os festejos momescos.
Era no salão paroquial, o famoso Salão do Padre, onde aconteciam todos os eventos da sociedade itapetinense, digamos que funcionava como um "Centro de Convenções". Era lá que o Bispo da Diocese fazia as conferências; que o Juiz dava a sentença a algum réu que era levado a juri popular; que as escolas apresentavam suas peças teatrais, que películas cinematográficas eram exibidas - quando alguém trazia de fora toda a parafernália necessária para o salão se transformar em cinema e, na falta das cadeiras, levávamos os tamboretes na cabeça, enfim, era o local onde a sociedade se reunia.
Não era um espaço somente desprovido de luxo, nós não tínhamos sequer um banheiro onde pudéssemos satisfazer as nossas necessidade fisiológicas, as famílias da vizinhança nos disponibilizavam os de suas casas. A decoração, quase sempre, era feita de palha de coqueiro e papel crepom. As mesas eram de tamanho e forma variados, umas pequenas, outras compridas, umas tantas redondas, outras quadradas, mas o importante era que, apesar do prejuízo visual, as famílias que acompanhavam os jovens, naquelas noites carnavalescas, ficavam acomodadas. Quando não eram os pais, eram os tios ou os amigos mais íntimos, aqueles da plena confiança dos pais, eles acompanhavam os jovens e se responsabilizavam pelas suas integridades: física e moral.
Muitos bailes carnavalescos ainda foram realizados no tempo em que não tínhamos energia elétrica da CHESF, nos valíamos da boa vontade dos prefeitos da época, para que permitissem que o gerador da cidade funcionasse até a madrugada, pois no cotidiano a luz apagava as dez horas em ponto. Nesse sentido, na gestão do meu pai, não foram poucas as contrariedades dos jovens, pois ele não gostava de carnaval, e relutava em oferecer condições para que esse tivesse êxito, o que considero, ainda hoje, uma das suas falhas como administrador público, embora saiba que, como católico, trazia consigo o conceito daquela festa pagã, e sempre dizia que se carnaval prestasse para alguma coisa não necessitávamos de tomar "cinzas" na quarta-feira para nos redimirmos dos pecados cometidos.
A orquestra era prata da casa, seus componentes eram uns abnegados que tocavam mais por prazer do que por dinheiro, foi batizada carinhosamente de PPFOM em homenagem a um deles que se chama Pedro Preto.
Ao centro: Negorás
Iniciando pela esquerda: Zé de Caboclo, Zezé de Pedrinho Pereira, Carlos Malta, João Bom, Dão de Sebastião Senhor, Chico Cândido, Pedro Preto, Zé Vieira e Valdir de Zé Gongô.
Carnaval 1971 - Salão Grande do Padre João Leite
Carnaval 1971 - Salão Grande do Padre João Leite
Iniciando pela esquerda: Lusa e Carlos, Socorro de Miminha, Ivonete Herculano e Leta Piancó.
Sentadas: Lila Piancó, uma amiga visitante (não lembro o nome), Ritinha do Padre (in memoriam), Dona Julinha Soares, Adalgisa Ricardo e Socorro Bitu.
Carnaval - Linda Morena
Fátima Piancó no carnaval de outrora (Produção de Dolores Piancó)
Carnaval no Salão Grande do Padre João
Sentadas: Lila Piancó, uma amiga visitante (não lembro o nome), Ritinha do Padre (in memoriam), Dona Julinha Soares, Adalgisa Ricardo e Socorro Bitu.
Carnaval - Linda Morena
Talvez o que procurei na minha terra não tenha sido o carnaval em si, a folia propriamente dita, mas o sentimento grupal que desapareceu, aquela sociedade de outrora que construímos em bases sólidas de uma amizade sincera. O que está faltando na minha terra, durante o carnaval, causa-me um grande desconforto, uma enorme saudade e uma extrema preocupação.
As crianças estão privadas daquelas manifestações improvisadas: homens que se cobriam com lençóis brancos, usavam máscaras, punham chifres, rabos postiços, e saiam às ruas pedindo dinheiro para o carnaval. Causavam uma espécie de medo, mas traziam uma mensagem importante: Chegou o Carnaval e vamos ter matiné no Salão Grande do Padre. As mães, as tias, as costureiras, todas elaboravam as fantasias para a apresentação daquelas crianças. A PPFOM acompanhava o bloco infantil e, à noite , animava o baile dos adultos.
Hoje, o que vejo por lá são crianças desoladas, acompanhando adultos pelos bares, onde a única diversão é beber cachaça, outras, ficam paradas diante da televisão, muitas delas sem entender o significado daquela folia.
Carnaval no Salão Grande do Padre João
Da esquerda: Ritinha do Padre (in memoriam), Ivonete Herculano, Lila Piancó, Socorro de Miminha, Leta Piancó e Valdívia Soares.
Emilinha Borba - Chiquita Bacana
Ao ouvir essa música, eu não posso deixar de me lembrar da figura exigente do meu saudoso pai.
Certo dia, ao ouvir atentamente a letra dessa composição, ele nos proibiu de cantá-la, considerava uma afronta a moral e aos bons costumes, rssss.
Carnaval 1968 - Praça São Pedro (atual Praça Cônego João Leite)
Da esquerda: Leta e Gilberto Leal, Carlos e Lusa, Dão Piancó, Lila, Heráclio e Penha.
Essa foto tem significado especial para mim, foi o dia em comecei a namorar com o homem que ainda hoje é o meu marido.
Carnaval 1969, com o nosso amigo Evaldo Costa
Marchinhas de Carnaval - Vem Cá seu Guarda, Mulata Bossa Nova, Vai com Jeito Vai, Chiquita Bacana
Carnaval de 1971 - Salão Grande do Padre João Leite
Da esquerda: Lila Piancó, Dão Piancó, Ivonete Herculano, Fátima Piancó, Carlos Rêgo Vilar e Lusa
Carnaval 2000 - Bairro do Recife Antigo
Da esquerda: Aninha Borges, Bernadete e Zé Humberto Passos; Leninha e Raimundo Santo, Nevinha de Zé Dentista; Carlos e Lusa.
Certamente não foi a falta da folia que me trouxe tanta tristeza nesse carnaval que passei na minha terra, foi muito mais a saudade dos velhos amigos que desfrutaram comigo das alegrias dos velhos carnavais itapetinenses, numa época em que não existia a violência bestial em que estamos vivendo atualmente. Desconhecíamos a droga, a imoralidade, e quando alguém se excedia na bebida era levado em casa para tomar um banho e dormir, no dia seguinte não se tinha nehum registro de que aquele cidadão havia ultrapassado os limites da boa conduta.
Talvez hoje, as pessoas da minha terra dão preferência a ganhar as praias do litoral pernambucano - as que têm um bom poder aquisitivo, que são poucas - o poder público municipal se esquive de organizar um carnaval para o seu povo, por falta de medidas preventivas para que reine paz durante a semana carnavalesca. Hoje a lei seca, que funciona em outros municípios, em Itapetim é ignorada, qualquer pessoa dirige embriagada sem ser abordada por nenhuma autoridade.
O policiamento é fraco e desprovido de condições para enfrentar bandidos que se infiltram nas brincadeiras do cidadão de bem. O avanço que tivemos restringe-se a condição dos espaços físicos, temos clubes, belas praças de uma arquitetura invejável, mas nos faltam as condições para enfrentarmos os elementos perturbadores da ordem.
Falta também, não resta dúvida, o resgate das bandas que tivemos nos tempos de antigamente desde o maestro Zé Gongô até a PPFOM, pois além de sermos o berço imortal da poesia somos um celeiro de músicos que não recebem apoio para desenvolver suas habilidades. Se tivéssemos feito algum esforço nesse sentido, Itapetim hoje poderia ter uma grande orquestra.
Bandinha de Zé Gongô, nos tempos das Umburanas (atente para a torre da Igreja Matriz de São Pedro das Lajes, cuja construção ainda estava no primeiro pavimento)
Se não podemos mais ter carnaval para os adultos, não deixemos que as nossas crianças desconheçam o lado bom desse período, façamos um esforço para promover tão bela manifestação da cultura brasileira, é um apelo que faço ao próximo prefeito do município, que ele faça acontecer através da Secretaria de Cultura, pelo menos, o carnaval infantil.
Finalmente, deixo aqui um vídeo que encontrei no YouTube, onde ouviremos o discurso da Prefeita de Sertânia, Senhora Cleide, que nos mostra as razões pelas quais uma cidade não pode passar sem carnaval. Parabéns, Prefeita, belo discurso!
" Quando a gente investe no carnaval, investe nos blocos, a gente investe também no desenvolvimento econômico de nossa cidade, porque o comércio informal, o empreendedor individual, as minis e pequenas empresas, elas também estão ganhando, por isso que a gente faz as festas” (Prefeita Cleide em seu Discurso)
O que está faltando na nossa terra para resgatarmos os carnavais de outrora é vontade política, aliada a uma total apatia da sociedade local.
Vamos gente, coragem! Vamos tentar resgatar o que tão bem fizemos no passado, ainda é tempo!
4 comentários:
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Feliz fin semana!
★MaRiBeL★
Lusa você com seu talento e suas memórias dá uma grande contribuição para nós os Itapetinenses, esta postagem levam-nos a um passado que nos trazem muitas lembranças da nossa terra de uma época que nutríamos muitas esperança de um Brasil do futuro me lembro da música VOCÊ TAMBÉM É RESPOINSÁVEL” DO TOM E RAVEL “ VOCÊ TAMBÉM É RESPONSÁVEL, ENTÃO ME ENSINE A ESCREVER, EU TENHOP A MINHA MÃO DOMÁVEL, EU SINTO A SEDE DO SABER”,
O que eu quero dizer é que também somos responsável por PILARES IMPORTANTE DA SOCIEDADE, que vão deste À HISTÓRIA, À ECONOMIA, Á CULTURA, Á EDUCAÇÃO À CIDADANIA, todas mencionadas nesta sua grandiosa postagem.
Parabéns!
Lusa,
Com lágrimas de saudade,diante de tua narrativa,lembro de alguns carnavais que meu pai (Zé Vieira)e meu tio (João Bom)tocaram,com tanta habilidade,com tão grande amor à música,ao momento,à vida.É impressionante como o teu post me faz imaginar o quão esperado era esse momento de festa,de confraternização! Sim,confraternização.No carnaval!É possível,sim.Muitas pessoas ficavam à frente da orquestra,embevecidas, entregues àqueles momentos de um prazer que só a música pode proporcionar. Sem atropelos,sem confusões e sem violência.E depois, "arrudiando" o salão,pobres e ricos,sem preconceito,numa alegria geral...Dando voltas e voltas, risadas,acompanhamento das músicas que a orquestra tocava lindamente... Ai,saudade.E eu era somente uma criança, que vestia a fantasia e brincava a maior parte do tempo!
Pois é.Somos co-responsáveis por essa "lacuna" que agora se apresenta nos "carnavais" da modernidade globalizada.
Será que ainda há tempo de plantarmos a "fantasia" e resgatarmos a história, construindo novos parâmetros para que a nossa própria história não morra?
Sempre se pode elaborar um projeto e de mãos dadas com os filhos saudosos,independente de crenças políticas, classes sociais ou credo religioso,fazer a nossa parte,fomentando o interesse e o fortalecimento de "raízes" para a questão cultural e histórica de nosso povo.
Um abraço,
Linda Simões
Lusa,
Fiquei imensamente grato pela suas menções e mostrarei essas eternas saudações ao meu Pai, o mais breve possível.
Grato
Wanderley, filho de Pedro Preto
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