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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

ITAPETIM-SERTÃO, POEMA DE HILDA LEITE MAGUIRE

Residência do Cônego João Leite de Andrade, Itapetim-PE (in memoriam)

Cônego João Leite de Andrade (in memoriam)

Sheila de Almeida Leite, nos tempos de criança. (Filha de Dona Iraci, uma das irmãs do Pe João Leite)

Elas são as irmãs do saudoso Pe João Leite: Iraci, Alice, Laura (in memoriam) e Hilda, também, já falecida.
Mas hoje quero homenagear Dona Hilda (in memoriam), deixando registrado um belo poema que ela fez para sua cidade natal, Itapetim.
Era verão de 1994 em Satellite Beach - Flórida- Estados Unidos, onde ela morava. A saudade da terra amada lhe trouxe a devida inspiração para que ela escrevesse esse belo poema:


Itapetim - Sertão

Ouvi voz silenciosa
Sei que é a voz do sertão
Pedindo-me para voltar.

Ouvi a voz da jurití
A voz do vem-vem,
A voz do bem-te-ví,
E a voz do sabiá...
Ouvi o poeta dizer:
"As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam, como lá..."

Depois dessa experiência
Estou pronta p'ra seguir
E rever o meu sertão.
Acordar de madrugada,
Ver o dourado sol nascer.
Saborear o caldo de cana,
Participar da farinhada;
Na rua, dançar a ciranda
Em meio à criançada.

No "Retiro" *, para o açude
Caminhar, e ver
A água cristalina
Pela brisa matutina
Sutilmente encrespada,
Impregnada
Do seu líquido poder...

Não posso esquecer
 O sertão onde nasci.
Quero ver as lindas plagas
Onde me criei e vivi
Quero ver o beija-flor,
As andorinhas...
E dos tranquilos campos o verdor...

Adoro o meu sertão
Inesquecível que me viu nascer,
Crescer e correr:
Pelos campos ressequidos
Pela ausência das chuvas raras...

Sinto falta do sertão,
E desejo demais voltar
Para entregar-me à essência
Da natureza e cantar.
Revificar as energias
Afinar a inteligência,
Aglomerar forças sadias
Que só o sertão pode dar.

Preciso ouvir o grito do acauã
E o mugir das vacas no curral...
Ser acordada pelo som tão pastoral
Do gato, bem cedinho,
Ao alvorecer da manhã...
Xerém com leite almoçar,
Comer mel de engenho e rapadura
Beber do pote de barro água pura!

Preciso contemplar
A natural singeleza
Dos pintaínhos correndo
Atrás da galinha...

Preciso saborear
A goiaba, a manga e a pinha.
Cheirar a flor do muçambê...
E minhas mãos, nas folhas
Do marmeleiro, esfregar
A fim de sentir seu perfume
Tão doce como a fragância do ipê...

Quero sentar-me à sombra do juazeiro
E meus cabelos lavar
Com a raspa de sua casca;
Que os torna macios e a brilhar.
Sentar-me sobre a sombra espessa
Da baraúna poderosa,
Sempre forte e frondosa
Admirando-lhe os galhos sãos,
Viçosos e pujantes da energia
Que a natureza lhes dá.

xxxxxxxxxxxxx

Em Julho de 1994, ao chegar a  Itapetim, escreveu:

Aqui estou Itapetim! ...
Ouvi teu meigo chamado
E precisava te rever
Necessitava do teu sublime ser
Dize-me o que queres de mim,
Oh! Bem-amada Itapetim!
Diante de ti uma promessa já puz,
De ajoalhar-me e lavar os teus pés
Com a tua própria luz!...

Itapetim, tu és o meu sertão querido!
Tu és minha vida alegre e feliz!
Homenagear-te é o que desejo agora,
Enquanto estou aqui e não fora!
Tu és meu irdescente raio de sol!...
Tu és meu matizado arrebol!...

Eu te adoro Itapetim!

Hilda Leite de MaGuire
Satellite Beach, 16 de dezembro de 1994

* Retiro: É o sítio onde Dona Hilda nasceu.

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