Grupo Escolar D. José Lopes, Professora Maria Madalena Guedes Patriota
Década de 1950
Eu gosto de reviver o passado. Eu gosto de deixar para meus netos como foi viver numa vilazinha do interior chamada Umburanas, lá no meu Sertão do Pajeú, no tempo em que só tínhamos acesso à escola aos sete anos de idade. Antes disso, tudo que sabíamos era através da oralidade dos nossos pais e avós, não tínhamos televisão, não dispúnhamos de jornais ou revistas, a cominicação com o mundo se restringia à escuta de um velho rádio que, na falta da energia elétrica, era alimentado por uma bateria.
Bernadete (Beta), minha irmã, é mais velha do que eu quase três anos. Ela já freqüentava a escola desde 1954, ano em que eu tinha apenas 5 anos de idade.
Ao vê-la sair de casa, vestida de azul e branco, carregando uma bolsa de livros, rumo à escola, eu não me conformava com aquela situação. Eu chorava todas as vezes que a via saindo para o Grupo Escolar D. José Lopes, que por sinal ficava defronte a nossa casa. Uma das professoras era Dona Madá, a tão temida Dona Madá, pela sua exigência ao cumprimento do dever, à assiduidade, à tarefa feita com zelo, ao comportamento exemplar e ao aprendizado propriamente dito, daquilo que ensinava com tanta competência.
Sentindo-me injustiçada, convenci meus pais a comprarem para mim um uniforme escolar e os mesmos livros que compraram para minha irmã no início daquele ano letivo de 1956.
Naquele ano eu tinha apenas seis anos de idade, por isso não tinha ainda o direito de matricular-me. Mas de tanto fazer confusão na hora da saída da minha irmã mais velha para a escola, meus pais resolveram atender aos meus apelos.
E assim, naquele memorável dia de volta às aulas, entre os veteranos, eu estreava o meu uniforme novo e saía de casa, segurando a mão do meu pai, em direção à escola, juntamente com minha irmã que já estava devidamente matriculada. Agora, sim, eu era igual a minha irmã, pensava comigo mesma: "Já sou grande, não sou mais aquela menina pequena que minha irmã esnobava quando se vestia para ir à escola".
Lourinha, de olhos verdes, vestida de azul e branco, carregando uma bolsa cheia de livros, não cabia em mim tanta alegria e emoção.
Ao chegarmos no Grupo Escolar D. José Lopes, meu pai se dirigiu a Dona Madá, a professora da minha irmã, para explicar a minha presença e, encarecidamente, pedir-lhe que me deixasse permanecer na sua sala de aula, independentemente de ter sido matriculada naquela instituição.
Um pouco receiosa - com certeza temendo que eu pudesse perturbar as suas aulas - aceitar-me-ia, mas com uma condição: se o meu comportamento não fosse condizente com as normas da casa, ela me devolveria sem pestanejar. Ao que meu pai, de pronto, concordou com ela.
Eu era uma garota muito sapeca, mas não ousava desafiar as ordens dadas, pois sabia que se isso acontecesse teria que enfrentar os meus pais, e a volta da minha casa era muito dura quando eles tinham conhecimento de que teríamos faltado com os nossos deveres e obrigações, o castigo era por demais severo.
E foi assim que recebi os meus primeiros conhecimentos advindos dos bancos escolares de uma escola estadual, antes já havia estudado nas escolas paroquiais e particulares, mas sem uniforme, na companhia de poucos garotos e garotas da minha época, em nível de alfabetização.
Agora era diferente, eu era uma estudante de verdade. Eu era colega e contemporânea de todos aqueles meninos e meninas que faziam parte da infância da minha terra, naquela época.
Lá estavam, Juca de Seu Sebastião Senhor, Nevinha de Zé Dentista, Gracinha e Edileide Patriota (sobrinhas de Dona Madá), Leninha de Seu Miguel Costa, Eduardo de Dona Joaquina, Hamilton de Seu João Ricardo, Paulo Roberto Gonçalves Lopes (sobrinho do Padre João), Luíz de Dona Carminha, José Carlos Malta, Raimundo de Seu Zé Santos, Carlos de Seu Zé Rêgo (hoje, meu marido) e tantos outros queridos e queridas amigas. Uns mais tarde, outros mais cedo, foram alunos do D. José Lopes na década de 1950, tendo a maioria deles passado pelas mãos da professora Dona Madá.
Dona Madá era irmã da professora Dona Otacília (in memoriam) que, semelhante a ela, também foi responsável pela educação de inúmeras crianças da minha terra, naquela época.
Era irmã também dos renomados poetas, conhecidos como os irmãos Batista, Dimas, Lourival e Otacílio (in memoriam).
Lourival Batista (acompanhado de sua esposa Helena Marinho
e o poeta Jó Patritota (in memoriam)
Otacílio e Dimas
Lourival Batista (Louro do Pajeú)
Otacílio Batista (ao centro)
Otacílio e Dimas
Dona Madá foi casada com o Ex-Prefeito de Itapetim, Simão Leite Ferreira (in memoriam).
2º prefeito eleito de Itapetim (1959-1962)
Seu Simão era um comerciante abastado. Proprietário de uma das maiores lojas de tecidos da cidade. Residiu com Dona Madá numa casa grande de 1º andar, vizinho à sua loja, onde nasceram os filhos:
Sheila (bancária aposentada do Banco do Brasil), Charles (também bancário do BB, já falecido), Shirley (promotora e justiça) e Chárliton (poeta, professor e autor do livro “Casebres, Castelos e Catedrais”).
Maria das Graças Patriota, Gracinha de Dona Otacília, como a chamávamos, era a sobrinha predileta de Dona Madá. Foi também a minha colega de curso primário, e a minha melhor amiga. Era neste primeiro andar que ficava o quarto que a sua tia querida, "Dadá", reservou para ela. Minha presença por ali, naquela época, era uma constante, dado esses fortes laços de amizade que nós construimos na infância e na adolescência.
Seu Simão foi o dono do famoso caminhão, que ficou conhecido como "O Jangadeiro", do qual guardamos saudosa lembrança.
E foram essas lembranças maravilhosas, de um tempo tão saudável, de amizades tão sinceras e desprovidas de interesses, onde víviamos quase como irmãos, que me fizeram ficar muito triste quando li no Blog do Jornalista Inaldo Sampaio:
"Morreu no Hospital Esperança, no Recife, nesta segunda-feira, vítima do mal de Alzheimer, Maria Madalena Patriota Leite, popularmente conhecida como “Madá”.
Ela tinha 83 anos de idade, era natural de Itapetim e era a única irmã viva da famosa trindade de violeiros – Dimas, Lourival e Otacílio Batista.
Madalena Patriota era professora aposentada e viúva de Simão Leite, 2º prefeito eleito de Itapetim (1959-1962). O prefeito Adelmo Moura (PSB) decretou luto oficial por três dias.
Ela era mãe de quatro filhos: Sheila (bancária aposentada do Banco do Brasil), Charles (também bancário do BB, já falecido), Shirley (promotora e justiça) e Chárliton (poeta, professor e autor do livro “Casebres, Castelos e Catedrais”).
O corpo será velado em São José do Egito e o sepultamento está previsto para a manhã desta terça-feira no cemitério Campo da Saudade."
Posto aqui este vídeo, de onde extraí a sua foto, para lembrar sua fisionomia, eternizando-a na memória da posteridade e, no coração daqueles que, como eu, tanto receberam da amada e saudosa mestra. Que Deus a receba na eternidade, permitindo-lhe a graça da salvação.