Suely (Filha de Antônio André) e Bernadete Piancó (São Vicente, 1947)
Bernadete (beta) é a minha irmã mais velha, ela nasceu em 1947, no antigo povoado de São Vicente, pertencente a então Vila das Umburanas, hoje minha cidade natal, Itapetim, no estado de Pernambuco.
Walfredo Paulino de Siqueira e Dona Maria eram seus padrinhos de Batismo, e Suely, a filha de Seu Antônio André, foi sua madrinha de apresentação.
Bernadete nasceu na época em que o ouro branco (algodão) era culltivado em larga escala no meu município. Meu pais, Antônio e Rita, casaram e foram morar naquele povoado, onde meu pai trabalhou nos armazéns de compra de algodão, mamona, agave e outras culturas, pertencente a Walfredo Paulino de Siqueira, um comerciante de São José do Egito, do qual veio, posteriormente, a ser sócio durante 40 anos.
Eu sou a segunda filha desse casal, já nascida em Itapetim, pois meus pais vieram morar nessa cidade, no ano de 1948.
A primeira "semente" que brotou daquele casal, a qual eles deram o nome de Bernadete, nasceu no solo de São Vicente, dando início a uma família de seis mulheres e um homem.
Minha irmã mai velha, nasceu na época em que São Vicente era apenas um arruado de poucas casas, e de muitos homens trabalhadores, os quais viviam da agricultura, vendendo sua produção à firma W.Siqueira & Piancó.
Meu pai, Antônio Piancó, um homem afeito a grandes amizades, apesar de ter vindo fixar residência na sede do município, continuou ligado àquelas pessoas, por laços, não só de amizade, mas comerciais e políticos.
Desde a mais ternra idade convivi com famílias inteiras de São Vicente, na minha casa a presença delas era uma constante. Habituei-me a ouvir nomes que, ainda hoje, trago bem vivos na minha mente e no meu coração, porque do meu pai recebi a herança de abraçar meus conterrâneos como se fôssemos uma grande Família.
Entre tantos outros, esses eram os nomes que ecoavam na minha casa nos tempos da minha infância e juventude: Agostinho Pereira de Vasconcelos, Oliveiros Ferreira de Albuquerque, Adolfo Gomes Meira, Ananias Nunes, Manoel Avelino, João de Lidinho, Inácio de Altino, e outros.
Há um outro nome que fincou em São Vicente a bandeira do trabalho, da honra e da dignidade, apesar de não ser filho natural. Walfredo Paulino de Siqueira, um baluarte, o maior chefe político da Região do Pajeú, viveu em São Vicente, juntamente com meu pai, Antônio Piancó, trocando dinheiro por mercadoria, na lógica do respeito ao suor do homem do campo: Plantou, colheu, vendeu. Todos tinham renda necessária ao sustento da sua família.
Aquele povo de São Vicente, nas épocas de grandes estiagens, ao perder sua colheita, não morria de fome porque esses homens financiavam a entressafra. Há quem veja sob a ótica da exploração, porque eles eram, além de comerciantes, políticos daquela região. Se assim viam naquela época, hoje ficariam estarrrecidos se presenciassem o tipo de exploração atualmente instalada.
Hoje, o povo de São Vicente pouco produz, vive esperando que o prefeito de Itapetim mendigue nas portas do Estado alguma ação que lhes sirva para o desenvolvimento, como é o caso da pavimentação da Rodovia do Repente, a PE- 263.
Uma ação realizada pelo empenho do prefeito, louvável, diga-se de passagem. A luta pela pavimentação dessa estrada vem desde os tempos em que eu ainda era menina, lá na minha terra. E Adelmo Moura conseguiu, na 1ª gestão do nosso Governador Eduardo Campos.
Infelizmente, o prefeito desluziu este ato de bravura, a conquista da pavimentação dessa estrada - que, apesar de não ter viabilidade econômica, do ponto de vista social oferece a São Vicente os benefícios da segurança e rapidez no tráfego para deslocamento dos seus moradores - quando construiu uma pequena praça no centro daquele distrito e, por desconhecimento da história do seu povo, deu o nome àquele logradouro público de "Zé Careca".
A inauguração daquela praça ocorrida ontem, dia 5 de abril - dia em que se comemora o aniversário da morte do Padreiro São Vicente, daquele distrito de mesmo nome - enodoou essa data, tão significativa para os católicos.
Para esta festa de inauguração o convidado especial do Prefeito Adelmo Moura, foi Ex Ministro da Casa Civil, no Governo Luís Inácio da Silva, que teve seu mandato cassado em razão de uma CPI no Senado Federal, que o apontou como sendo o chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos da nação brasileira. Neste dia da inauguração, enquanto o Ex Ministro se deslocava para o meu município, a Revista Época pubilcava uma matéria noticiando a conclusão do inquério da Polícia Federal sobre o esquema de corrupção denominado o "Mensalão", tendo sido, novamente, o seu Zé Dirceu apontado como o mentor daquele esquema montado no país.
Ligada na Rádio Pedras Soltas, pude acompanhar a entrevista coletiva que o Sr.Zé Dirceu concedeu a imprensa de Pernambuco. O assunto principal da visita de José Dirceu a Itapetim era referente ao período da ditadura - segundo o Jornal do Comércio, na matéria que publicou no dia seguinte - O Zé Careca ficou relevado a segundo plano, mesmo sendo o principal homenageado, cujo nome iria ficar para sempre gravado na praça principal.
Somente ao chegar no Sítio Baixio, onde Zé Careca passou um tempo foragido, é que um morador daquele distrito conhecido como Inaldo Alves de Siqueira, deu a biografia que Zé Careca imprimiu em São Vicente:
- "Ele era uma pessoa muito simples, muito inteligente e se dava bem com todo mundo."
- "Ele adorava jogar bilhar, pagava cachaça para quem não podia e gostava de andar de jumento. Aliás, de 15 em 15 dias ele fazia um churrasco de jumento no sítio, recorda José Hildo Pereira.
E deve ter sido por esses extraordinário serviço, prestado à comunidade de São Vicente, que o Prefeito Adelmo o escolheu. Fica uma pergunta que não quer calar:
Como pode um município - que sempre teve um passado de glória, representado na memória viva, na memória dos que não morrem, porque ao passar por este mundo deixaram um rastro de realizações, favores, préstimos e, sobretudo, de honradez - batizar uma praça com o nome de alguém que não teve participação alguma na sua história?
Como pode trocar por Zé Careca, o nome Walfredo Paulino de Siqueira, que tanto trabalhou pelo engrandecimento do nosso município e da nossa região?
Compare o que publicaram sobre Walfredo, no dia do seu falecimento, com o depoimento de alguns filhos de São Vicente sobre Zé Careca:
"Foi com profundo pesar e um imenso sentimento de perda, portanto, que o governador Moura Cavalcanti decretou luto oficial por três dias pela morte de Walfrêdo, determinando que, no seu sepultamento, em São José do Egito, ele recebesse as honras de chefe de Estado, já que assumira o Governo por 17 vezes, no impedimento do titular.
A cidade viveu um dia triste. Delegações e representantes dos municípios vizinhos, especialmente de Itapetim, Brejinho, Santa Terezinha, Imaculada, Tabira e Tuparetama foram render homenagem ao velho chefe político, responsável por inúmeras obras municipais ali realizadas, compreendendo escolas, postos de saúde, postos telefônicos, cadeias públicas etc.
Violeiros e cantadores que Walfrêdo tanto apreciava improvisaram na viola a saga do homem que, sem ter concluído o curso primário, chegou tão longe na vida pública, deixando gravada na memória do povo sua lenda e seu exemplo.A ARENA, partido que então integrava e que abrigava as antigas lideranças do PSD, prestou-lhe homenagem póstuma no II Encontro Regional, realizado em Garanhuns, nos dias 11 e 12 de janeiro de 1976.
Padrinho de batismo de centenas de afilhados, muitos deles, já homens feitos e prósperos na vida, estiveram presentes na última homenagem, exaltando-lhe a grandeza humana com que marcou sua vida na terra."
(Pinçado de "O Algodão e o Sonho" de Ivanildo Sampaio")
Em nome dos cidadãos da minha terra natal, em nome de Bernadete, minha irmã, sua afilhada de Batismo, eu quero pedir desculpas pelo o ultraje cometido à sua memória, pela passividade do povo que o conheceu, pela ignorância da juventude que não chegou a conhecer a sua história, pelo prefeito que, embora conheça, preferiu escolher a figura inexpressiva de Zé Careca, como bode expiatório para uma consolidação de amizade com o réu, Zé Dirceu, acusado pela Polícia Federal de ser o mentor do Mensalão.
Segundo eu soube, o prefeito contratou um bufet na Cidade de Afogados da Ingazeira, para receber o homem do mensalão com todas as pompas, oferecendo-lhe um jantar, que não tinha nada a ver com o menu do homenageado (Zé Careca), churrasco de jumento.
Hoje ao ler o Jornal do comércio, um grande jornal de pernambuco, eu tive a certeza absoluta de que aquele evento de inauguração da praça não passou de um pretexto para uma aproximação do prefeito com o réu do esquema do mensalão, haja vista não aparecer na reportagem uma foto sequer da praça inaugurada, nem do povo de São Vicente que estava presente.
Então eu me pergunto: Por que cargas d'água Zé Dirceu escolheu o nosso município para uma entrevista coletiva aos jornais e blogueiros do estado? Ele foi considerado pelo Jornal do Comércio como a grande estrela do evento, em asim sendo, teria sido mais prático entrevistá-lo aqui na capital, já que não se deram ao trabalho de se reportar ao evento em si, chegando ao cúmulo de não postaram nenhuma fotografia da praça inaugurada, nem tampouco do povo alí presente.
Só São Vicente, Padroeiro daquel distrito, poderá vir em nosso socorro, no sentido de preservarmos a história do nosso povo:
"Oh! Glorioso traumartugo São Vicente, eleito por Deus para avivar a fé nas almas, lenvantar até o céu os votos da esperança e inflamar nos corações o divino fogo da caridade! Já que com tanta fidelidade desde a terna infância cooperastes com a graça do Altíssimo, por cujo amor tantas almas convertestes e edificastes, sendo honra insigne do clero e do estado religioso, vos suplicamos nos alcanceis da Divina Majestade uma grande pureza de intenção, contínua vitória contra as tentações, grande afeição às coisas santas e um constante pensamento de que Deus está presente a todas as minhas ações, para que, imitando-vos em vida, logre bendizer a Deus em vossa companhia na glória. Amém."
São Vicente Ferrer (pinçado do orkut de Bernardo Garapa)
Hino a São Vicente
Eu peço desculpas, também, a Maciel Melo, filho de seu Heleno de Louro, um cidadão de São Vicente, que, ao ver o filho partir para São Paulo em busca de realização artística, o aconselhou:
" Meu filho, nunca baixe a cabeça pra ninguém"
E eu espero do fundo do meu coração que esse grande poeta, que tanto nos orgulha pelo seu talento, jamais esqueça do pedido que lhe fizera seu velho pai, na hora em que se viu obrigado a deixar a sua casa em busca de realização.
Maciel inicia essa canção relebrando a música de Agnaldo Timóteo:
"Se algum dia a minha terra eu voltar, quero encontrar as memas coisas que deixei ..."
Não, não vai encontrar, Maciel. Você vai encontrar um tal de Zé Careca em praça pública, ao invés de encontrar, o nome de um cidadão da terra, como o de seu pai, por exemplo, emprestado àquele logradouro.
Teria sido uma festa memorável, nós estaríamos todos presentes para prestigiar o evento que consagraria a memória do seu honrado velho, passando para a posteridade uma história decente.
Iríamos, com certeza, ouvir na sua bela voz: " Aí eu chorava com saudade dele, mamãe guardava pra ele, um sorriso, um beijo, uma flor ...
E o seu apelo: "Sou um caboclo sonhador, viu, não queira mudar meu verso ..."
Mas mudaram, Maciel, nosso "verso" foi mudado, desde a hora em que o prefeito imiscuiu na história do nosso povo um elemento estranho às nossas raízes. Que pena!
Outro dia recebi de presente do meu amigo e conterrâneo, Bernardo Ferreira, este vídeo que muito me emocionou pela grandeza da letra de sua música.
Obrigada, meu amigo, é um presente maravilhoso, para nós filhos ausentes. Hoje é uma data memorável para todos nós que nascemos neste município. É memorável, porque nunca vamos esquecer que em São Vicente uma praça recebeu o nome de um tal Zé Careca, ultrajando a memória daqueles que fizeram a história de nossa terra. Estamos prestes a comemomorar, o centenário de Walfredo Paulino de Siqueira, o maior líder político da Região do Pajeú.
Ele foi um dos responsáveis pela dinâmica da economia agropecuária do distrito de São Vicente, por décadas a fio e, entre outros ilustres homens nascidos naquele distrito, também foi preterido para dar lugar ao nome de um forasteiro, terrorista que, pelo simples fato de ter se escondido naquela caatinga, hoje tem seu nome gravado com letras de sangue, na placa daquela praça. Santo Deus!
Inconscientemente o povo corre atrás do novo e perde o endereço!