Seguidores

domingo, 30 de outubro de 2011

BARTIRA, LINDA, LINDA, LINDA, A SUA MENSAGEM!

Especialmente para Bartira Goveia de Amorim
Filha de um dos maiores poetas da minha terra:
Pedro Amorim (in memoriam)


Eu costumo terminar minhas postagens neste blog com o refrão da consagrada música do nosso Rei Roberto Carlos. Mas hoje estou por demais feliz com o comentário postado no "Raízes" pela minha amiga Bartira, por isso ao invés de fechar o texto, como de costume, eu preciso dizer logo de início: 

"Tem coisas que a gente não tira do coração" e a nossa mizade com Bartira e Eriberto, seu esposo, é uma delas.
Nos encontros de amigos dos quais participamos, na minha terra natal, contar com a presença desse casal, que sempre nos devotou amizade, simpatia e bem querer, somos agraciados  por uma espécie de  aura que nos envolve de alegria e prazer.
Bartira e Eriberto têm a capacidade de espantar tristezas, distribuem gratuitamente afetos que nos fazem sentir o quanto a nossa presença é desejada. E nada mais gratificante do que se sentir amado, desejado, querido em rodas de amigos. Os comentários retrospectivos à nossa juventude, referenetes aos tempos de namoro e noivado, asseguram-nos, mais uma vez, de que "tem coisas que a gente não tira do coração". Dá-nos a impressão de que o Rei não deixou escapar nenhum detalhe da vida que desfrutamos nessa cidade em que nascemos, onde construimos tantos amigos, que para nós são verdadeiros irmãos.
Você fala no seu comentário que, infelizmente, não herdou as rimas do seu pai, o grande Pedro Amorim, mas com certeza herdou a sensibilidade do poeta, assim eu pude captar no seu texto.
E eu na condição de, também, filha de poeta (não tão grande como seu pai), mas poeta, herdei dele a emoção de construir amigos, de me sentir feliz em meio deles e de ser profundamente grata aos que ofertam amizade sincera.

Quando meu pai faleceu eu recebi a visita de Seu Pedro, juntos choramos, lamentamos, nos abraçamos e eu pude sentir o quanto ele amava meu saudoso pai e, sem querer ser repetitiva, me obrigo a dizer novamente:

 "Tem coisas que a gente não tira do coração". 

A visita de Seu Pedro à minha casa, naquele dia de tão lamentável perda para todos nós, será lembrança eterna na minha memória e no meu coração.

Queria saber fazer um poema para ele, alíás, acho até que já o fiz, mas jamais saberei passá-lo para o papel ou declamá-lo. Creio ser esse  o maior inferno das almas poéticas: carregar na alma uma avalanche de sentimentos que sufocam o peito sem ter a capacidade de abortar um verso sequer.
Por essa incapacidade, transcrevo para ele uma homenagem que lhe fez o poeta Felipe Júnior, por ocasião do seu falecimento, fazendo minhas as suas palavras:


" Nosso Pedro Amorim fez sua parte
Nos mostrando que verso e solidão
São dois casos que têm o seu aparte
Pra quem ama demais o seu torrão.

Nessa parte o poeta é quem reparte
Através da viola, voz e mão
Levantando a bandeira, o estandarte,
Das belezas sagradas do sertão.

Desejando encontrar-se com um colega,
Vem a morte... Amorim logo se entrega
Já querendo ver Jó, Louro e Xudu.
Zé Catota, sorrindo então completa,
Foi dizendo a Amorim: “Pronto, poeta!
Hoje o céu que tornou-se o Pajeú!"

Felipe Junior


Se no encontro dos poetas, lá na eternidade, o céu se tornou o Pajeú, conforme escreveu Felipe Júnior, hoje com o teu comentário no "Raízes", a capital do estado (onde resido), para quem carrega no peito um "coração tão sertanejo" como eu, sente-se obrigada a evocar outro grande poeta nosso, Maciel Melo, para acudir com sua canção as saudadaes que sinto da terra onde nasci e da minha gente que nunca esquecerei.

Enfim, agradecendo sua atenção, suas palavras de carinho e incentivo, transcrevo seu comentário e sinto nas entrelinhas que não lhes escaparam as "bravuras de Eriberto", rsss
"Lusa,

 Gostaria de ter herdado de meu pai também a sua sapiência poética para externar tudo o que sinto ao visitar seu blog. Você ora nos oportuniza a viajar no tempo, por vezes perdendo a razão... Ora nos faz refletir sobre nossos valores e até situações, e mesmo objetos, que muitas vezes – talvez pelo nosso corre-corre, nos sejam imperceptíveis.

A sua atitude é de uma inteligência invejável! Parabéns!

Sua forma brilhante de se expressar representa para mim um referencial e, às vezes, um elixir, sem contar com a questão de você e Carlos me proporcionarem recordar fatos que marcaram a minha vida, que me trazem à baila literalmente: “ela nem olhou pra mim”...

São tantas as coisas que me completam ao clicar no seu blog, no entanto, as citações que trazem Roberto Carlos exigem especial atenção. Em sendo assim, que tal refletirmos ou até ouvirmos a música: “tem coisas que a gente não tira do coração”. Que, como você diz, segundo Eriberto, é linda! Linda, linda, linda!

Um forte abraço.


Bartira Amorim."
Como você mesma disse, vamos sim, vamos ouvir mais esta canção, vamos fazer dela um hino de louvor à nossa amizade, tão arraigada nos velhos troncos das nossas raízes pajeuzeiras e nordestinas, especialmente itapetinenses.

Beijos!

domingo, 9 de outubro de 2011

DHOTTA LAMENTA A VIDA E A MORTE DO SEU TIO GERALDO

Geraldo da Penha (in memoriam)

DE LUSA PIANCÓ VILAR
PARA O AMIGO GERALDO DA PENHA 

Você viveu na minha história, você fez parte da minha infância, da minha adolescência, você viveu na mesma rua em que eu vivi, lá na Major Claúdio Leite, na nossa cidade natal, Itapetim. Todos os dias em que eu passei na sua calçada, no seu jeito introvertido de ser, você me deu amizade, você me tratou com respeito e consideração.
Há poucos meses atrás tivemos nossas duas últimas oportunidades de reencontro. Na primeira delas você estava debruçado sobre o corrimão da escada da sua casa e eu passava para uma visita ao meu irmão, que também mora na mesma rua em que você morou toda sua vida. Conversamos sobre o Sítio Penha, e você me falava o quanto gostava de estar por lá, mas que infelizmente era forçado a vir dormir na cidade porque sentia medo de ficar à noite devido a violência, aos assaltos que já haviam chegado até a zona rural.
Na segunda oportunidade você estava almoçando no retaurante do meu irmão, lá onde outrora funcionou a velha fábrica de doces do meu saudoso pai. Cumprimentamo-nos com a mesma receptividade de sempre.
Ao terminar seu almoço você me deu até logo e se foi. Não imaginava que aquele "até logo" seria "adeus" definitivamente. Nunca mais nos veremos, nunca mais nos encontraremos, mas saiba que a cadeira que deixou vazia no nosso "trem da vida" , será sempre lembrada como a de um amigo que pouco falava, mas as poucas palavras a mim dirigidas foram para demonstrar a simpatia que nutria pela minha pessoa.
Quando voltar à minha terra e passar pela sua calçada, tenha a certeza de que vou lamentar a sua ausência, vou sentir falta de mais um dos filhos de Seu Juvino e Dona Inêz que desceu na "Estação  Principal", deixando boas recordações da amizade que sempre uniu velhos conterrâneos de uma geração que aprenderam a conviver como se fizessem parte de uma grande família.
Que Deus, seus pais e seus irmãos, o recebam na eternidade para um recomeço de uma vida onde tudo se resume em uma só palavra: AMOR.

Depois das minhas palavras, deixo aqui transcrito o comentário que seu sobrinho Dhotta postou no Blog Pássaros Soltos, sobre o falecimento do seu tio Geraldo da Penha.
São palavras arrancadas do seu coração, num momento em que revelamos a tristeza que sentimos de afetos que por alguma razão nos foram negados e que agora se transformam num lamento, na inexorável constação de que nada mais pode ser feito para que voltemos atrás.

Amigo Dhotta: meu abraço, minha compreensão e a certeza de que você jamais será o único a padecer dessa cuel realidade. Há mais pessoas aqui nesse mundo precisando ler o seu desabafo.
Para Geraldo, que se foi, não há mais nada a fazer, mas para outros que Deus ainda está dando a chance de fazer da vida um hino de amor e de afeto, principalmente dentro do núcleo familiar, o que você escreveu de maneira tão pura e sincera é um grande texto para uma enorme reflexão.
Clique no link:

DE MARCOS DHOTTA


Engraçado! Na vida cada um é cada um. E como é difícil entendermos isso... Queremos sempre que os outros sejam o que deles esperamos. Essa é a pedra angular da grande peleja dos homens. Meu tio Geraldo acaba de falecer e elegeu na morte a mesma solidão que cultivou na vida. Pediu aos sobrinhos que não mais o visitassem, quem sabe para não compartilhar na morte das companhias que sempre evitou em vida. Era um solitário por opção. Nunca conseguiu conviver bem com os irmãos, nem com os sobrinhos e muito menos, com o único filho. Com os amigos, às vezes. É certo que não agia assim por iniqüidade ou incúria. Apenas queria ser só, e ponto final. Viveu isolado de tudo e de todos. Passava meses no sítio sem aparecer e ou dar notícias. Deus sabe por quais “caminhos” passou. Não tinha outros vícios senão o cigarro e o de ser sozinho. Nem por isso foi um inútil. Trabalhou no legado das terras que o pai deixou: O Sitio Penha. Apenas não se deixava estimar com facilidade. As pessoas tinham por ele um conceito quase que de temor, pelo algo de “coronelismo” que moldava sua conduta. Não tinha carisma. Plantou cana, milho, feijão e algodão. Cuidou de gado e cultivou pastagens. Aprendeu e estudou a terra com as próprias mãos. Ao mesmo tempo em que era um ser primitivo, era um homem de política. Foi vereador, mas não gostava de associar-se a ninguém, nem a nada. Não queria mais do que ser ele mesmo. Pensava como Ibsen que o homem só é o mais forte. Agia com dureza para não fazer concessões. Não foi fraternal com os seus, nem consigo mesmo. Era apenas coerente e lógico no seu espontâneo isolamento. Viu a sorte escapar-lhe pelos dedos inúmeras vezes e a dor alagar o precipício que as tragédias abrem em nossos corações. Perdeu os pais, os irmãos e sobrinhos. Pouquíssimas vezes o vi gargalhar. Talvez não quisesse ficar refém da alegria, nem esgotar-se em sua busca. Acredito, como sobrinho, que a alegria o incomodasse. Certa vez escutei de seu filho: “nem sei se tive um pai”. Tinha razão, porque também não tenho certeza de que foi meu tio, tão separados vivemos sempre. Morreu no seio de sua segunda mãe: A irmã Maria. Recusou tratamentos, médicos e remédios. Quis continuar só na morte sem deixar vestígios nem pegadas que o levassem até ele. Nunca fez alarde do seu carinho por nós, mas de certa forma pedia que “o compreendêssemos”, porque ele era assim... E assim era mesmo. Não teve grandes amores, apenas um: Doralice. O qual dizem, guardou somente para ele. Enfim, ele foi o meu Tio Geraldo que uma vez, na festa de São Pedro, passeou comigo horas e horas na roda gigante. E só! Esta foi a mais forte recordação que tenho dele. Recordação na forma de uma tristeza que hoje - já morto - me faz lembrar dele por algo que nunca aprendeu a fazer: Ser concretamente Feliz ! Que Deus o tenha meu tio. 
09 de outubro de 2011