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domingo, 22 de abril de 2012

UMA CARTA DE ISADORA MORAES PARA O VOVÔ JOÃO GRILO


Seu João Grilo nos tempos da Juventude
(in memoriam)

Hoje vi uma postagem no facebook, no mural de uma das minhas amigas. O que estava escrito me chamou muito atenção, talvez, porque nos tempos de hoje está se tornando cada vez mais raro o jovem revelar esse tipo de sentimento. De maneira geral, a juventude, salvo exceções, se comporta como se bastasse a si própria e, de seus antepassados, quando muito, guarda pálida lembrança.
Estou falando de uma moça chamada Isadora Moraes, que escreveu para o seu vovô João Grilo a mais emocionante carta de saudade que já pude ler. 
Junto-me a neta de seu João para render homenagens a esse homem que deixou muitas saudades, não só para seus familiares, mas, de um modo geral, para todos os seus amigos e conterrâneos que tiveram a honra de com ele conviver.

 ETERNAS SAUDADES.
Para João Grilo de Araujo, meu avô.

Isadora Moraes

Meu avô, minha vida, meu tudo! Vovô, fazem quase 6 anos que Deus te chamou pra ficar junto dele, e tirou você de mim, de nós. Hoje eu queria dizer não sou mais a mesma depois que você se foi, e com certeza não serei jamais, você é de grande importância na minha vida, e a saudade que eu sinto de você só acumula, uma saudade que eu sei que jamais vou conseguir apagar, a sua imagem me vem sempre à cabeça, eu me lembro constantemente de você, do jeito como você falava de mim, do seu jeito de sorrir, de ver a vida, me lembro de tudo.


Hoje você não está mais aqui comigo, e eu sei o quanto isso meche comigo, e o quanto isso me deixa triste. Sempre me lembro de você com lágrimas nos olhos, e sorriso na boca, lágrimas de saudade, e sorriso de felicidade, pelos momentos bons que compartilhamos juntos. É vovô, por aqui as coisas não andam nada fáceis, e eu imagino o quanto tudo isso seria diferente se você estivesse aqui, com a sua convicção, com o seu jeito durão e ao mesmo tempo sensível.Todo mundo via o carinho e o cuidado que você tinha comigo, você nunca escondeu de mim que eu era tudo pra você, a sua preocupação, os seus sermões, o seu amor, o seu cuidado, tudo isso me fez ser o que eu sou hoje, e eu serei eternamente grata a você, por nunca ter me deixado faltar nada, por me fazer completa, quero te agradecer por cada momento bom que pude desfrutar ao teu lado, por cada sorriso sincero que você deu pra mim, por cada história, por cada beijo de saudade...


Sinto saudades de quando você me pedia pra morar com você, de pedir sua opnião em tudo, isso tudo me faz falta. Quando eu te perdi,vovô, eu vi que você era uma das pessoas mais importantes da minha vida, quando eu realmente vi que você não ia mais voltar, que eu nunca mais ia ver você, conversar com você, ouvir suas histórias, seus sermões.


Ô vovô, eu me arrependo tanto de não ter aproveitado mais o tempo que eu tive com você, eu não tive como me despedir de você, e quando te vi pela ultima vez, não imaginei que seria a ultima, mas foi. Deus quis assim, sua jornada na terra acabou, e eu infelizmente não posso fazer nada para reverter isso. Você estará eternamente vivo em meu coração, será sempre lembrado por mim, será sempre amado, estimado e respeitado. Eu te amo muito vovô, e sinto muitas saudades de você. Fica com Deus, cuida de mim, olha por mim, não me deixa só, não esquece de mim, porque eu não esqueço de você jamais.

De sua neta,
Isadora.


Nota:

Parabéns Isadora, pela sua sensibilidade, por essa belíssima demonstração de carinho, respeito e saudade do seu querido vovô. Lá no céu, ele recebeu sua mensagem e intercedeu em seu favor, pedindo a Deus que sempre a proteja e a defenda dos males dessa vida. Um beijo, você é uma neta abençoada!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

ADEUS COMADRE CREUSA!


A família Sargento Material / Creusa Rodrigues



No dia 5 de janeiro de 1955, chegava em Itapetim,  o casal Augusto e Creuza Rodrigues, ele como soldado da Polícia Militar, egresso do município de Custódia-PE, com apenas dois filhos: João e Roberto. João foi criado pelos avós e, por esse motivo, somente Roberto acompanhara os pais para se estabelecer na nossa terra.
Meu pai havia construído a nossa casa de morada, em 1953, bem ao lado da Igreja Matriz, e o casal recém chegado foi morar em uma casa vizinha à nossa, cujo proprietário, hoje, é o Senhor João Fotógrafo.

A casa dos meus pais na década de 1950 - Do lado esquerdo: a casa de seu Manoel da Porteira e a Casa Paroquial e do lado direito: a casa em que morou a família de Material e Creusa Rodrigues.

Uma família ligada por laços políticos e por uma amizade profunda, principalmente por um relacionamento fraterno que existia entre minha saudosa mãe Rita Piancó e a inesquecível Creusa, esposa de seu material soldado. Roberto passara a ser a companhia do meu irmão João, pois por ser o único homem entre seis mulheres tinha aquele menino, chegado de Custódia, como um verdadeiro irmão. 
Ele tinha os cabelos longos, na altura da cintura, pagava uma promessa que a mãe havia feito pra que se curasse de uma doença, que não me lembro mais de que natureza. Só sei que o cabelo dele nos chamava atenção. 

Dão (meu irmão) e Roberto Rodrigues (filho do Casal Augusto e Creusa)

Acho que poucas pessoas sabiam que o Soldado Material tinha sido batizado com o nome de Augusto. Talvez, o Sargento Material, ainda hoje, tenha o seu verdadeiro nome desconhecido por muitos. Entretanto, a ninguém da minha terra é dado o direito de desconhecer a trajetória de vida honrada dessa família que veio se estabelecer no nosso torrão natal. Os anos foram passando e a família do Sargento foi aumentando. Depois de João e Roberto, chegaram os nascidos em Itapetim: Margarida, Margareth, Maria do Socorro, Maria José, Doda, Tadeu e Aparecida, todos eram como se fossem nossos irmãos, inclusive chamavam de vozinha a nossa saudosa avó D. Conceição Piancó, e de Tia Dolores e Tio Benzinho, os nossos tios de saudosa memória que com ela moravam. 

Quando Margareth nasceu, meus pais foram tomados como padrinhos de batismo e a amizade se estreitou ainda mais. Daquele dia em diante o casal passou a ser para todos da minha família a Comadre Creusa e o Compadre Material, e o mais interessante é que eles também nos tratavam da mesma forma, desde os meus pais até a caçula Rita de Cássia minha irmã , até os dias hoje, continuaram nos chamando de "comadres".

Despedir-me de Comadre Creusa é o mesmo que fechar um capítulo da minha vida de criança e adolescente do qual ela fez parte ativamente. Amiga fiel e confidente da minha mãe, solidária, companheira disponível, agradável companhia, uma verdadeira irmã; talvez maior e melhor do que muitas consangüineas que não sabem, como elas, manterem ao longo de toda a existência tanto amor, tanta compreensão e tanto respeito  entre si.

Ao chorar a saudade de Comadre Creuza, eu misturo minhas lágrimas com as que derramo pela falta que sinto da minha inesquecível mãe. Elas foram "Comadres" inseparáveis aqui nesta vida terrena, e sinto que vão se encontrar na eternidade, vão, diante do Trono do Senhor, receber as graças merecidas em recompensa pela amizade verdadeira que as uniu aqui na terra como duas verdadeiras irmãs que se amam.


Vai comadre Creusa, vai ao encontro do Pai Eterno e, se Ele permitir o encontro com a minha mãe, diz a ela, a minha inesquecível mãe, que todas as suas filhas, as suas eternas "comadres"  honraram essa amizade pura, sem maiores interesses, e te amaram até o último momento em que estivesse entre nós.

Saudades Eternas das Comadres e Compadres, filhos de Compadre Toinho e Comadre Rita!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

AO POETA JOÃO VENTURA QUE TECE, EM VERSOS, O FIO DE SUAS MEMÓRIAS


João Nunes Ventura - Na sua infância.

O poeta que canta e encanta a terra em que nasceu, que não esquece os seus antepassados, que hoje aos setenta anos, rodeado de filhos e netos, distante do seu torrão natal, escreve em versos "as memórias que guarda de memória". João é filho de Edwiges Nunes Ventura, uma sobrinha do meu sogro, uma doce e respeitável senhora que um dia viveu entre nós, cuja memória continua viva no coração de todos que com ela conviveram. Mas deixemos o poeta falar, cantemos com ele os louvores à sua família em homenagem aos que já se foram e aos que deles se originaram.


Dona Constância e seu Manoel Ventura
 (avós maternos do poeta João Ventura)

Dona Constância, era casada com seu Manoel Ventura, e dessa união nasceram: Dona Natália, Edviges, Maria Ventura, Feliciana, Dolores, Nanan, João e Francisco.
Todos casaram e tiveram filhos, exceto Maria Ventura que se dedicou como freira a vida religiosa.
É para a  família que Edviges constituiu ao se casar com seu Alberto Nunes que hoje venho prestar minha homenagem. Para tanto, farei uso das poesias do seu filho João Nunes Ventura, cuja beleza dispensa minhas singelas palavras. pois, por si só já são um verdadeiro hino de amor aos seu familiares.





Edviges Ventura Nunes (in memoriam) - Brejinho-PE - Ano de 1945

MINHA MÃE

Mãe estrela brilhante e formosa
Suavemente da terra partiste,
Não te esqueças que o meu amor existe
No meu coração, oh! Mãe carinhosa.

Partiste desta vida misteriosa
Meu coração parado, batendo triste,
Nas alturas e que tu subiste
Ficou vazia, tua ausência saudosa.

No repouso eterno descansa serena
Velando por mim que estou a chorar,
No mundo sozinho partido de pena.

Peço a Deus que reservou teu lugar
No milage da eternidade suprema,
No céu onde estás, um dia te encontrar.

João Ventura

O casal Alberto e Edvirges Nunes Ventura (in memoriam)

SAUDADES DE MINHA MÃE

No meu caminho de luz
Na madrugada dormindo,
Tive um sonho lindo
Pra consolo dos dias meus;
Na vizão dos meus sonhos
Minha mãe me fitava,
E com um terço rezava
De joelhos aos pés de Deus.

Em criança lhe amava
Lhe chamava de rainha,
Pérola que era minha
A verdadeira devoção;
O mais lindo e puro amor
No berço me embalava,
E carinhosamente me chamava
Oh! filho do coração.

A saudade doeu no coração
E pra não morrer de tristeza,
Sentei na minha mesa
Em minha mãe fui pensar;
Nesses versos singelos
Confortei minha amargura,
Da lembrança e ternura
E da delícia de lhe amar. 

(João Nunes Ventura)



Alberto Nunes e Edviges Ventura Nunes 

PAI

Pai dos nossos corações
Por nosso bem a zelar,
Com carinho a nos amar
São nossas recordações.

No fervor de suas orações
Pediu graças para o nosso lar,
Mostrou o caminho a encontrar
O amor aos nossos irmãos.

Nosso lar ficou vazio
Mas generoso foi o seu brio,
Como o Pai melhor da terra.

Sua melodia não se ouve mais
E a sua voz calou em paz,
Mas a saudade é sempre eterna. 

João Ventura



Maria do Carmo, João, Lindalva e José - Na infância.
(Os irmãos Nunes Ventura)

MINHAS CANTIGAS DE RODA

Em cantiga de roda
Cantei ao som de viola
Sonhei no meu travesseiro,
Tantas notas de ternuras
Despertar de formosuras
Saudades do amor primeiro.

Se esta rua fosse minha
Eu pegava as folinhas
Espalhadas pelo chão,
E com rosa amarela
Eu te deixava mais bela
Dentro do meu coração.

Feliz no cordão da roda
Apanhei uma sacola
Quem uma moeda me dar,
Não é esmola nao é nada
É uma fita encarnada
Para teu coração enfeitar.

Na roda da ciranda
O meu coração comanda
E dança na areia da praia,
E como perfuma as flores
Eu deixo cheirosa as cores
No desenho de tua saia.

Na lira do meu canto
Alimentei teu encanto
E as cantigas que amei,
E os lírios de criança
Que fizeram a mudança
Dos amores que sonhei.

Belas foram às cantigas
Dos amores e das amigas
De uma infância querida,
Do doce encanto que era
O sorriso dos lábios dela
Sob o céu de minha vida.

As cantigas são lembranças
Dos sonhos de crianças
Num canto de saudade,
São fantasias que criei
E amores que chorei
Em minha pequena idade.

Na minha trova singela
As saudades que tenho dela
São os tempos de escola,
De mãos dadas a dançar
E nas ruas a cantar
As minhas cantigas de roda.

Eu choro com as cantigas
De minhas paixões antigas
Em meus dias de primores,
Que lembra minha infância
E que me trouxe a esperança
E por elas morro de amores.


João Ventura

Cleonice Ventura Nunes- Primeira Comunhão em Brejinho- PE

Os irmãos Cleonice e João Ventura - Valsa dos 15 anos 
Festa de debutantes - Brejinho-PE

João Nunes Ventura aos 2 1 anos - 1963

Cleonice Nunes Ventura (irmã do poeta João)

Drª Maria do Carmo Nunes (irmã do Poeta João Ventura)

Cleonice ao lado de sua mãe Edvirges (Dave)

"Era mês de maio, o Dia das Mães estava se aproximando, e por  minha mãe já não se encontrar mais conosco (porém sempre estará presente espiritualmente) resolvi escrever um poema dedicado a ela, baseado em fatos reais. Nasci numa cidade do sertão de pernambuco, Itapetim, e aos 14 anos, fui obrigado a sair da casa de meus pais para estudar num colégio interno, e nunca mais voltei a viver com meus familiares debaixo do mesmo teto.

O poema escrevi fala da saudade e das apreensões da minha mãe na hora da minha  partida, são lembranças tão vivas que, naquele momento, deixei-me levar pela ilusão de que ela mesma o escrevera para mim."

O ADEUS DA MINHA MÃE
A DESPEDIDA

O vento que te levou
Ao despontar da mocidade,
Sufocando-me de saudade
Pra longe do meu sertão;
Quantas noites mal dormidas
Ouvindo os sons das violas,
E as notas mais chorosas
Das cordas do meu coração.

Ao despertar da aurora
Segue o teu destino, João,
Teus filhos, que um dia vão
Fazer a semente crescer;
Caminha na força da vida
O vento que arrasta o veleiro,
É o mesmo que chega primeiro
Aliviando meu padecer.

O sol dourando o chão
Na solidão desta terra,
Que na abertura da serra
A vida se torna esquecida;
Chorei o pranto da saudade
Com as lágrimas que o sol queimou,
Naquela manhã que marcou
O adeus da despedida.

Me desperta saudade profunda
Daqueles tempos ditosos,
Dos folguedos saudosos
Das manhãs de nossa gente;
Com a lembrança no passado
Da tua antiga morada,
No despertar da alvorada
Do teu encanto inocente.

A vida é luta para quem chega
É a Pátria para quem fica,
E a natureza fortifica
Quem parte para vencer;
Aos nobres e aos vagabundos
Os desejos são iguais,
Partistes com os ideais
De encontrar o teu saber.

Por onde quer que andares
Estarei sempre ao teu lado,
Relembrando teu passado
E os caminhos risonhos;
Além das montanhas um dia
Precisando de algum afeto,
Estarei sempre por perto
Embalando teus lindos sonhos.    

(João Ventura)




O Vovô João Ventura e sua netinha Beatriz Maria

ENCANTAM MINHAS POESIAS

Desde minha pouca infância
Lá no meu seco sertão,
Trabalhar foi minha sina
No sol ardente do chão.

Em minha outra idade
Já um jovem sonhador,
Dancei forró pé de serra
Plantei lírio, colhi amor.

Internado num colégio
Muito novo eu me vi,
No orgulho da mocidade
Minha pátria eu servi.

Saudades do lar querido
No meu novo caminho,
Com o tempo a passar
Lembrança de ser menino.

O meu coração estimado
Com os cabelos já brancos,
Nos deleites seus prazeres
Nos afagos meus encantos.

Cansado e os passos lentos
Na glória dos dias meus,
As angústias e vitórias,
São sinas que vem de Deus.

Mas quando tenho no colo
Meu netinho inocente,
No coração de amor,
Do sabor que adoça a gente.

Logo cresce meu neto
Bate palma feliz agora,
As cicatrizes do meu rosto
São marcas de minha história.

Sorrindo diz para mim
Pés descalços e peito nú,
Que as raízes do meu saber
Vem das terras do pajeú.

Nos campos a brincar meu neto
Risonho com as fantasias,
Nas páginas melhor da Web
Ecantam minhas poesias.

João Nunes Ventura



Beatriz Maria aos 11 anos


A netinha Letícia Nunes - (Atualmente com 6 anos)

LETÍCIA

Letícia criança com sonho de ternura
Pura beleza que o encanto revela,
Delícia de amor e amizade sincera
Serena e cativa, Oh! linda doçura.

Deitada no berço feliz a cochilar
Anjo de Deus, sublime e de luz,
Eu rezo e contemplo, Oh! Cristo Jesus
Embalando contente uma canção de ninar.

Caminha risonha com sua emoção
Para a escolinha do seu coração,
Nas manhãs sadias da vida a brincar.

Rogo a Deus que lhe deu consciência
Conduza seu coração para o bem ofertar.
Com todo o amor da sua longa existência.

(João Ventura)


A netinha Beatriz (Filha de Paula Hemília)

BEATRIZ

Beatriz Maria estrela brilhante
Louvor singelo dos encantos meus,
Foi concebida pelas mãos de Deus
Qual anjo celeste de luz radiante.

Feliz desabrocha com sua pureza
Encanta os ares seu olhar cristalino,
A alma ergue o canto divino
Louvando aos céus, sua santa beleza.

Desponta a existência na crença da esperança
Que os sonhos puros dos tempos de criança,
Se concretizem na sua mocidade.

Dormindo sonha cercadade de flores
Desperta cantando da vida a liberdade,
Ostenta risonha seus cantos de amores.

      Soneto publicado no meu livro,
            O SONHO DE UM POETA
(João Ventura)




Praça Rogaciano Leite - Itapetim-PE

BERÇO QUERIDO

Do berço querido saudosas andanças
Rodeado de carinho bons tempos vivi,
O beijo franco da morena linda
O sabor dos seus lábios nos meus eu senti.

Os dias festivos que Deus reservou
A brisa cheirosa da aurora contente,
Na renovada esperança a vida floresce
Rever as raízes da estirpe da gente.

De minha mãe eternas saudades
Dos meus amigos paz e quietude,
Das minhas irmães suaves carícias
Da risonha idade, doce juventude.

E como filho que chora, a terra natal
De lembrar os afetos da real paixão,
Deitado na rede com leve sorriso
De ver a amada com flores na mão.

O céu de azul adornava as noites
Os olhos da menina brilhavam ao luar,
As salvadas memórias dos dias lindos
Oh! quantas saudades eu tenho de lá.

A frondosa sombra da ampla mangueira
Descalça a trigueira corria a brincar,
Com minha viola ofegava a canção
Com meu coração de joelhos a cantar.

Muitas vezes solitário mirando o luar
Quis voltar ao convívio dos meus primores,
Mergulhar nas lembranças das belas cantigas
Recordar as delícias dos meigos amores.

(João Ventura)


MEU BERÇO AMADO - ITAPETIM

Desfilam no teu seio nobres poetas
Tremula o pendão da liberdade,
Lindos sonhos de tua mocidade
No meu coração saudades repletas.

Pátria adorada azul dos meus primores
Povo heroico das regiões do Pajeú,
Mais sadias do que os solos do sul
Este recanto florido de meus louvores.

Os dias meus jamais esquecidos
Os trovadores de essências nascidos,
Não esqueceram os prantos da partida.

Fico orgulhoso ao te ver bonita assim
Pois tu és a idolatrada da minha vida,
Meu berço amado e querido: Itapetim.

(João Ventura)

Acesse o link abaixo e siga o poeta João Ventura, onde você poderá ler outros belos poemas, afora os que aqui foram postados:



quarta-feira, 4 de abril de 2012

ANITA VILAR E A REVOLUÇÃO DE 1930 NA PARAÍBA


Dona Constância e o Sr. Manoel Ventura (in memoriam)

 (Foto gentilmente cedida por João Ventura - neto do casal)

José da Costa Rego Monteiro irmão de Dona Constância Ventura
(in memoriam)

Ana Vilar Rêgo, esposa de José da Costa Rêgo Monteiro (in memoriam)
(Dona Anita)


O casal José Rêgo e Ana Rêgo Vilar

Aderbal Rêgo Monteiro (in memoriam)
Filho mais velho do casal Anita Vilar e José Rêgo

A homenagem que faço hoje no "Raízes do Coração" traz uma história que envolve as minhas ligações familiares, pois Anita Vilar Rêgo era minha sogra, avó dos meus filhos, descendente da família Vilar, Dantas e Suassuna. Protagonista da Revolução de 1930 no estado da Paraíba, dado que ela, Dona Anita, era da família de João Dantas, o autor dos disparos que culminou com a morte do então "Presidente" João Pessoa. A família Rêgo/Vilar era militante do Partido Republicano Paulista-PRP, (perrepistas) contra o Partido da Aliança Liberal - AL (liberais), tendo sofrido horrores após a morte do Governador João Pessoa, que naquela época se chamava de Presidente.

Segundo José Jóffily (1979, p. 298/299).


"Da morte de João Pessoa até a madrugada da Revolução, vivemos dois longos meses de corre-corres e quebra-quebras sob a trepidação de eloqüências inesgotáveis... Era uma legião sem uniformes. Tinha, porém, um distintivo comum para homens e mulheres: o lenço encarnado na cabeça, no pescoço ou na cinta. A palavra vermelho era empregada como sinônimo de liberal. A partir do dia 27, a casa que não ostentasse uma bandeirola preta ficaria suspeita de perrepismo, isto é, de “assassino de João Pessoa”. Após aquele sábado trágico, as passeatas adquiriram mais alvoroço e maior participação para pressionar o Governo no sentido de mudar o nome da Capital e de adotar a nova bandeira- a do NÉGO até hoje instituída."










E foi nesse contexto político, do ano de 1931, que a família Rêgo, representada pelos irmãos, José da Costa Rêgo Monteiro, Anatólio, Serafina (Finoca) e Constância, além do primo Severino Rêgo, se viram obrigados a migrar de Teixeira - PB para o estado de Pernambucano, pois, na condição de perrepistas,  os liberais lhes fizeram toda sorte de perseguição, incendiando suas lojas, empurrando para os subterrâneos do silêncio suas memórias de elites perrepistas derrotadas.

Seu Zé Rêgo e Dona Anita desceram a Serra do Teixeira, do estado da Paraíba, em direção a então Vila das Umburanas, hoje cidade de Itapetim-PE, acompanhados dos filhos: Aderbal, Adalberto (Tim), Terezinha (Teca) e Antônio Rêgo, que ainda era uma criança de braço. Trouxeram com eles parentes e amigos, que também deixavam para trás toda uma vida construída com honra e trabalho, para se esconderem da fúria dos adversários que faziam da morte de João Pessoa um fato político, quando na verdade se sabe que o crime ocorreu em defesa da honra ultrajada. Procuraram o Padre João Leite de Andrade para pedir asilo e, por ele, foram recebidos. Sob a orientação do Padre foram se esconder no Sítio Recanto, na casa de Dona Véinha a mãe do saudoso Antônio Correia.

Passado alguns dias, o Padre João teve informação de que a polícia paraibana estaria no encalço dos fugitivos, então, imediatamente mandou os Jovens Zezo Correia e Crisante Valdivino avisá-los de que teriam que escolher outro esconderijo.
Foram anos de inquietude que a família passou, motivada pelas consequência da morte João Pessoa e de João Suassuna, pai do escritor Ariano Suassuna, considerado hoje o maior escritor vivo do Brasil.


A MORTE DE JOÃO PESSOA

"A desavença entre João Pessoa e João Dantas começou a agravar-se com um fato insignificante.
Segundo Osvaldo Trigueiro no seu livro “A Paraíba na Primeira República”, “quando João Dantas já havia deixado a capital apareceu ali seu irmão Joaquim Dantas, pessoa de condição modesta, que nunca se envolveu em política e há dezessete anos residia no Rio de Janeiro. A ele jamais se imputou provadamente a pratica de qualquer ato ilegal. Sem nenhuma causa aparente a policia mandou prendê-lo e
enviou-o para Piancó, ficando retido por mais de 30 dias na sede do Comando das Operações contra Princesa. O fato transtornou João Dantas que passou um telegrama para João Pessoa responsabilizando-o por qualquer eventualidade que acontecesse ao irmão.
Desse telegrama originou-se a polêmica de extrema violência: o jornal A União, órgão oficial do Governo, passou a atacar João Dantas em linguagem agressiva que era respondida por ele através do Jornal do Comércio no mesmo tom.” O uso do jornal A União era uma prática constante que João Pessoa utilizava para denegrir a imagem de seus adversários. Contra o ausente João Dantas, porém, a ação policial foi ainda mais cruel. Assim é que, “enquanto acontecia a polêmica, a policia arrombou a residência de João Dantas - um sobrado na Rua Duque de Caxias- a pretexto de procurar armas que não foram encontradas. Essa diligência, praticada de forma absurda, foi ruidosamente noticiada pelo órgão oficial.” Não satisfeita com a desnecessária violência, a policia, dias depois, voltou à casa de João Dantas, destruiu os móveis, queimou arquivos e objetos pessoais, revistou todos os papéis e documentos que ali se encontrou e arrombou um cofre que estava fechado. “No dia seguinte o órgão oficial publicava várias cartas apreendidas, as quais eram interpretadas como comprometedoras da honrabilidade da família. Além disso, informava aos leitores que no cofre também haviam sido encontradas cartas amorosas e um diário íntimo, que não publicavam por serem imorais, mas que ficavam na redação à disposição de quem os quisesse ler.” Uma verdadeira exposição foi montada e visitada durante dias por um sem número de curiosos que formavam filas intermináveis. As cartas envolviam o seu pai Franklin Dantas, amigos e clientes do advogado, além de sua namorada Anayde Beiriz, professora conceituada, poetisa e feminista politizada que teve também a sua honra agredida. A repercussão deste fato ainda estava em evidência quando, a 26 de julho, João Pessoa foi ao Recife para, segundo a imprensa, visitar o Juiz Federal Cunha Melo. Alguns escritores porém atribuem a viagem de João Pessoa a um encontro com a cantora lírica Cristina Maristany. No momento turbulento em que se encontrava era natural a presença de uma companhia feminina como forma de confidenciar suas angústias. Tanto é que esteve na Joalheria Krauser e comprou uma jóia, possivelmente para presenteá-la. Várias evidências levam a pensar que realmente era esse o motivo de sua viagem. A primeira delas é o fato de João Pessoa querer viajar sozinho dispensando, inclusive, a companhia de seu irmão Oswaldo. Naquele momento o governador viajar para Recife seria muito perigoso já que Pernambuco era um celeiro de seus inimigos. Os impostos implantados pelo seu governo nas mercadorias vendidas na Paraíba fez várias empresas daquele Estado passarem por dificuldades financeiras e muitas delas chegaram a falência. Uma outra questão que ficou no ar: já que ele voltaria no mesmo dia, por que passou o cargo para o seu vice Álvaro de Carvalho?
João Dantas vinha num bonde de Olinda para Recife quando viu a notícia na primeira página de A União.
Ao ver a noticia publicada no Jornal oficial da Parahyba, João Dantas desceu do bonde onde se encontrava, voltou a sua residência e se armou de um revólver. Percorreu várias ruas da cidade até que viu o automóvel do Governo da Parahyba estacionado na esquina da Rua Nova com Abreu e Lima, fazendo crer que o presidente estava na Confeitaria Glória. Ao penetrar na Confeitaria, reconheceu o presidente que despreocupadamente tomava chá na companhia de três amigos. Eram eles Agamenon Magalhães, Caio Abreu e... “Falta o nome do 3º personagem!!!!”
Aproximou-se da mesa e encarando o presidente disse-lhe:
”Eu sou João Dantas”. Logo em seguida, disparou três tiros, matando o governador.
No primeiro tiro a bala não explodiu, o que leva a crer que a munição era velha ou há muito tempo o revólver não havia sido utilizado. O corpo de João Pessoa foi levado para uma farmácia próxima da Confeitaria onde minutos depois não resistiu aos ferimentos.
Como afirma Trigueiro, “os fatos acima não justificam o crime, mas o explicam como fruto de questão pessoal"."


Leia mais acessando o link: http://www.dantasvilar.net - A verdadeira História da Paraíba

A MORTE TRÁGICA DE JOÃO SUASSUNA

"Fim trágico aconteceu também ao pai do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, o Presidente João Suassuna quando foi morto com um tiro pelas costas, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 09 de outubro, há exatamente 81 anos atrás, em represália pela morte de João Pessoa.Segundo Domingos Meireles em seu livro “1930 – Os Órfãos da Revolução”: “Suassuna sabia que pretendiam matá-lo. Num inquérito instaurado no Recife para apurar a morte de João Pessoa, fora indiciado como cúmplice”. Como João Suassuna, na época de sua morte, exercia o mandato de Deputado Federal, gozava de imunidade Parlamentar e só deveria ser julgado com licença da Câmara Federal. Segundo ainda Meireles “Mesmo diante da campanha promovida pela imprensa, a Câmara negou o pedido da Justiça, livrando-o do processo”. Como a decisão fora recente, não retornou logo a Paraíba para evitar provocações. A verdade é que João Suassuna nada tinha a ver com o assassinado do Presidente da Paraíba.

O deputado João Suassuna, às 8 h. da manha, resolvera voltar ao Hotel Belo Horizonte, onde morava, para pegar uma capa, já que ameaçava chover. No caminho, encontrou-se com seu amigo e conterrâneo Caio Gusmão. Os dois perceberam que um estranho os seguia. Em determinado momento ouviu-se apenas o estampido seco dos disparos.

Segundo ainda Meireles, João Suassuna “ao ser atingido pelas costas ainda sacou seu revolver e perseguiu o assassino de arma em punho, mas, ao atravessar a rua, as pernas se dobraram e ele tombou sem vida sobre a calçada”.
Na véspera de ser assassinado, João Suassuna escreveu à mulher Ritinha e, sob forte emoção, falou do pressentimento de que talvez não voltassem a se encontrar. Assim escreveu; “se eu desaparecer e não nos virmos mais neste mundo de tristezas e dores pingentes, pode você assegurar aos nossos adoráveis filhos que sou inocente na morte de João Pessoa(“). A todos os nosso parentes e amigos leais, deve você minha amada mulher dar essas minhas declarações, caso venha a perecer como é possível, para que nenhum tenha a mais ligeira dúvida sobre a minha inocência”.
D. Ritinha só tomou conhecimento da tragédia um dia depois, através do jornal “Correio da Manhã”, editado por Carlos de Lima Cavalcante em Recife. Impossível descrever o quadro de desolação que se abateu sobre ela e os seus filhos, que nem se quer tiveram como ver o esquife do marido e tão pouco assistir os funerais no Rio de Janeiro. A última vez que o viram vivo foi quando Suassuna embarcou de navio para o Rio de Janeiro no dia 24 de setembro de 1930.
João Suassuna era inteligente e culto. Tocava Violão, cantava e compunha versos. Segundo seus amigos, Suassuna tinha um bom humor permanente, possuía talento, veia poética, oratória imaginosa, cultura, memória invejável, coragem leonina e conversa amabilíssima.
Foi graças a ele que João Pessoa se tornou Governador, quando cedeu a secessão natural de Júlio Lira, abrindo a vaga e dando-lhe o comando do partido. Por ironia do destino, foi morto covardemente pelas costas, na Rua do Riachuelo no dia 09 de outubro 1930, no Rio de Janeiro, por correligionários de João Pessoa, deixando nove filhos, o mais velho com 15 anos e a mais nova com apenas 1 ano. O nosso homenageado, Ariano Suassuna, com pouco mais de 3 anos apenas de idade."

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Não pretendo nesta postagem esgotar o assunto, pois se trata de uma história muito longa e cheia de percalços, quis apenas relembrar os motivos pelos quais a família do meu marido Carlos Vilar veio morar em Itapetim, onde se estabeleceu comercialmente seguindo o mesmo ramo de negócios que havia sido destroçado pela Revolução de 1930. Ainda hoje a loja de tecidos que meu sogro comprou ao seu primo Severino Rêgo, conserva a sua arquitetura, tendo o seu frontispício revestido de originais azulejos portugueses.

Prédio da Loja Iracema - Fundada em 1930

Nove filhos nasceram do casal Anita Vilar e José Rêgo. Aderbal (in memoriam), Adalberto (Tim), Terezinha, Antônio (in memoriam) e Maria do Socorro são paraibanos de nascimento e pernambucanos de coração. Em Itapetim-PE nasceram: Pedrinho (in memoriam), Geraldo, Maria Luíza e Carlos Rêgo (meu marido).

Também conserva a sua arquitetura original a casa de dois dos irmãos de seu Zé Rêgo: Anatólio e Finoca Rêgo (in memoriam), os quais não chegaram a se casar e moraram debaixo do mesmo teto até o dia em que faleceram.

Casa de Anatólio Rêgo e Finoca (in memoriam)

Uma outra irmã de seu Zé Rêgo, Dona Constância, era casada com seu Manoel Ventura, e dessa união nasceram: Dona Natália, Edviges, Maria Ventura, Feliciana, Dolores, Nanan, João e Francisco.
Todos casaram e tiveram filhos, exceto Maria Ventura que se dedicou como freira a vida religiosa.

Essa é a família a qual me liguei desde 1973 por laços matrimoniais e afetivos ao me casar com um dos filhos de seu Zé Rêgo, o sogro que infelizmente não conheci, pois morreu prematuramente com 52 anos, deixando meu marido, Carlos, órfão com apenas 6 anos de idade.
(...) situações vividas só se transformam em memória se aquele que se lembra sentir-se afetivamente ligado ao grupo ao qual pertenceu.Aliás, ao que pertence, pois só se fez parte de um grupo no passado se se continua afetivamente a fazer parte dele no presente. Se no presente, alguém não se recorda de uma vivência coletiva do passado é porque não pertencia àquele grupo- ainda que pertencesse fisicamente-, já que é o afetivo que indica o pertencimento”.(D`ÁLÉSSIO, 1992, p. 98-99). 

AGUARDE A PRÓXIMA POSTAGEM :
HOMENAGEM AO POETA JOÃO VENTURA (Sobrinho neto de José da Costa Rêgo Monteiro)